18/12/2007

NATAL 2007

NATAL 2007
Victor Jerónimo

Muitos homens e mulheres têm passado pela minha vida. Com algumas centenas convivi dezenas de anos e bem poucos restaram no final.Os que restaram guardo-os no lado esquerdo do peito e cada um ocupa o seu lugar o carinho e a amizade que tenho para com eles.Os outros seguiram para outros lugares porque a vida não se compadece nem tem dó. É como os Natais, alguns ficaram bem aqui do lado esquerdo, principalmente aqueles em que a idade da razão ainda não havia chegado para compreender a vida, os outros, alguns, passaram-se foram-se no esquecimento.Esquecimento? Bem, se me lembro deles não ficaram tão esquecidos assim e isto porque a Lei da Polaridade nos ensina "Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados "Porque tudo na vida é duplo tudo é igual apenas mudando a perspectiva com que encaramos o que nos rodeia.Os Natais e porque estamos nesta quadra, sempre serão iguais na comemoração do nascimento de um Deus-Menino e os comercias, sempre se preocuparão em usufruir o dinheiro que está nas algibeiras de cada um de nós e os pobres continuarão pobres, os mais afortunados talvez tenham uma sopa quente dada por alguma mão caridosa ou alguma instituição, os doentes continuarão nas suas camas de dor e alguns poderão ter a sorte de algum familiar ir dar-lhes um carinho com amor ou outros com menos amor apenas cumprindo o seu calvário, as guerras continuarão e homens, mulheres e crianças tombarão neste dia para sempre e cada vez sabendo menos pelo que morrem, os assassinos e ladrões continuarão assim como toda a corja que habita este mundo que lhes foi ofertado por um Ser Maior, mas que o homem tem destruído sistematicamente por ganância.Não pensem que escapam ao Juízo Final ou ao fim dos tempos, "Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade mas nenhum escapa à Lei" Lei de Causa e Efeito,Cada um é responsável pelos seus actos e o que fizermos um pouco receberemos em dobro.É Natal no mundo cristão, para o resto do mundo o dia seguirá o seu curso sem manifestações natalícias e onde a heroicidade de cada um continuará a ser o seu viver.Que os meus amigos guardados do lado esquerdo do peito tenham um bom Natal e todos os outros o tenham por igual.Pelo menos que a recordação do verdadeiro Natal habite os seus corações."O que está em cima é como o que está embaixo. E o que está embaixo é como o que está em cima"

17.Dez.2007

27/11/2007

A CULPA FOI DOS JESUÍTAS

A CULPA FOI DOS JESUÍTAS
(sobre o primeiro de Dezembro de 1640)
Victor Jerónimo(*)


A perda da independência de Portugal em 1580 para os Espanhóis, obedeceu a uma série de factores onde estiveram inseridos a arrogância, má governação, igreja através dos Jesuítas e também a má sorte ou azar do Rei D. João III.
Com efeito El-Rei D. Sebastião nasceu como “O Desejado” em 20 de Janeiro de 1554.
Quando nasceu D. Sebastião neto de D. João III, a sucessão estava em perigo devido ao casamento da infanta D. Maria de Portugal com o príncipe D. Filipe de Castela pois as escrituras do casamento continham uma clausula que atribuía aos filhos deste matrimónio a herança da coroa portuguesa se a esta faltassem herdeiros.
Os 10 filhos de D.João III morreram ainda o rei estava vivo e só um deles o Principe D. João que nasceu a 03 de Junho de 1537, chegou à adolescência.
Seu pai para garantir a descendência, casou-o aos 15 anos com D. Joana, filha de Carlos V de Espanha, mas infelizmente também este faleceu em 02 de Janeiro de 1554, deixando a sua esposa gravida.
Se acreditarmos em destino, veremos que Portugal tinha o seu traçado, desde há muito, pois o falecimento dos filhos do Rei D. João III assim como dos seus irmãos não augurava nada de bom para o país e havia que criar-se uma descendência com urgência. D. Sebastião com três anos e meio foi aclamado Rei de Portugal e quando chegou à adolescência, deveria ter assegurado esta e não ter-se metido em aventuras, esta deveria ter sido a sua maior procupação.
O Império Português com dois séculos e meio estava em grave perigo e a pouca sorte do Rei D. João III agravou grandemente esta situação.
D. Sebastião Rei de Portugal tinha uma saúde precária mas uma grande paixão: a guerra.
O bom D. Aleixo de Menezes e os defeitos de Luís Gonçalves da Câmara, foram duas grandes influências na vida de D. Sebastião. D. Aleixo com os seus bons conselhos tentava que este não aceitasse os aduladores e aquando da sua morte em em 1569, deixou-lhe recomendações que ele nunca cumpriu. Aconselhava-lo entre várias coisas a que não se entregasse nas mãos dos fidalgos moços, mas passados alguns anos foi isso que fez.
Luís Gonçalves da Câmara, era um caçador semi-selvagem que desprezava o amor e o perigo.
Foi este que o impediu de deixar um herdeiro à coroa e de se salvar na derrota de Alcácer-Quibir, quando isso ainda era bem fácil.
D. Sebastião foi também um escravo dos jesuítas, que tudo fizeram para que este desenvolvesse o fervor religioso, e tudo faziam para que se afastasse das mulheres, pois a influência destas, esposa ou amante, iria destruir para sempre a influência do confessor.
Temos assim um rei efemeninado que fugia das mulheres e que para compensar dedicou-se à guerra.
Foi dessa amizade e união que fez com jovens temerários do seu tempo e a arrogância de não ouvir os conselhos que recebia que levou o país à catastrofe.
Com efeito este rei que nunca percorreu o país visitando os seus subditos e nunca convocou cortes só tinha como desejos a conquista do Norte de África aos Mouros.
Desbaratou e arruinou os cofres do reino com a contratação de mercenários para formar o exercito, pediu ajuda a Espanha e com estes aventureiros e miseráveis partiu para a guerra em Junho de 1578.
A organização de um exercito sem treino e sem objectivo patriótico foi o prenúncio do caos que levaria à estrondosa derrota de Portugal em Alcácer-Quibir.
Um exercito cansado, esfomeado e sem um rei capaz de o dirigir sofre uma estrondosa derrota em 3 e 4 de Agosto, levando à morte, o Rei.
A insensatez e a arrogância destruíram para sempre Portugal e este nunca mais conseguiu ter a estabilidade económica que viveu anteriormente.
O tentar conquistar o Norte de África aos Mouros levou a que Portugal mergulhasse “para sempre” no abismo.
A destruição de todo o exército em Alcacér Quibir, e a morte de D.Sebastião que não tinha herdeiros levou a que Portugal, dois anos depois entregasse o trono a Espanha.
Em 1580, D.Filipe II Rei de Espanha e neto do Rei D. Manuel I apodera-se da corte portuguesa e em 1581 é aclamado Rei de Portugal nas cortes de Tomar.
António Prior do Crato, neto (ilegítimo?) do Rei D.Manuel I ainda tentou a salvação tendo sido nomeado Rei pelo povo em 1580 no Castelo de Santarém, mas só governou 20 dias.
Na batalha de Alcântara frente ao Duque de Alba, sofreu grande derrota tendo então transferido o governo para a Ilha Terceira, Açores até 1583 onde acabou por ser derrotado, sobretudo pelo apoio da nobreza tradicional e da burguesia de apoio a Filipe.
D. António Prior do Crato foi o derradeiro príncipe da Casa de Avis e a História de Portugal comete uma grande injustiça por não o considerar como o décimo oitavo rei de Portugal com o titulo de El-Rei D. António I.
Realmente sempre houve nobres e senhores em Portugal prontos a entregar a soberania em troca de umas moedas e umas “territas”.
Como acontece ainda hoje a troco de uns Euritos, pensam que a salvação está em Espanha.
Ou outros como o nosso premio Nobel da Literatura, por exemplo, mas isto será matéria para outro artigo.
A dinastia dos Filipes, governou Portugal, durante sessenta anos e se considerarmos que houve realmente uma união Ibérica esta formou o maior Império que alguma vez existiu pois juntou territórios de quase todos os cantos do mundo, a saber:
América Central,América do Sul, Estados Unidos da América (87% do território), Arizona, México, África (menos o Egito, Sudão), Índia (Baçaim, Calcutá, Calecute, Cannannore, Cochim, Colombo, Chinsura, Damão, Dio, Hughli, Galle, Goa, Jaffna, Maldivas, Masulipatam, Matar, Nagapatam, Ormuz, Pulicat, Serampore, Tranquebar, Tricomale, Filipinas, Ilhas Carolinas, Ilhas Marianas, Ilhas Marshall, Irão, (Bandar Abbas), Omã (Mazcate e Zanzibar), China (Macau), Indonésia (Bante, Flores, Java, Macassar, Molucas e Timor), Kiribati, Malásia, Palau, Singapura, Espanha, Itália, (região sul), Portugal, Alemanha, Áustria, Suíça, Liechtenstein, Bélgica, Países Baixos , Luxemburgo, República Checa, Eslovênia, França, (região leste), Itália, (região norte), Polónia (região oeste), Nova Guiné, num total de Área dos Territórios de 52.266.452 km2. (fonte Wikipédia)
Mas a perda da independencia portuguesa era um facto e o sonho de uma união Ibérica não poderia continuar.
Até porque os Filipes não tinham capacidade para governar um Império tão vasto.
O Rei Filipe II de Espanha comprometeu-se a respeitar os acordos portugueses as suas tradições e a seguir a Carta Manuelina, mas já o Rei Filipe IV desrespeitou todos esses acordos.
Afinal o que se pode esperar de um povo que é dominado pelo seu inimigo, onde durante tantos anos muito sangue foi derramado para manter a soberania portuguesa?
Filipe IV desrespeitou os privilégios da nobreza nacional agravando-os.
O que esperavam? Não foram eles que anos antes tinham apoiado como seu salvador o jugo espanhol? Ah nobre povo português que tanto tens sofrido por mercê dos senhores que te têm governado.
Com Filipe IV os impostos aumentaram e a população empobreceu; os burgueses ficaram afectados nos seus interesses comerciais e a nobreza ficou preocupada com a perda dos seus postos e rendimentos e o mais grave de tudo o Império Português começou a ser ameaçado por ingleses e holandeses perante a impotência dos governadores filipinos.
Portugal achava-se envolvido nas controvérsias europeias que a coroa estava a atravessar, com muitos riscos para a manutenção dos territórios coloniais, com grandes perdas para os ingleses e, principalmente, para os holandeses em África (São Jorge da Mina 1637), no Oriente (Ormuz em 1622 e o Japão em 1639) e principalmente no Brasil (Salvador, Bahia em 1624; Recife, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Sergipe desde 1630). (¹)
O descontentamento e o perigo de Portugal perder para sempre os seus territórios fez crescer o sentimento de revolta de alguns nobres portugueses, sobretudo pela Casa de Bragança.
Foi também determinante no processo da revolta a intenção do Conde-Duque de Olivares em 1640 tentar usar tropas portuguesas nas zonas catalãs.
Assim em 01 de Dezembro de 1640, em um sabado, tal como hoje, (2007) quarenta conjurados, donde se destacaram os fidalgos D. Antão de Almada, D. Miguel de Almeida e o Dr. João Pinto Ribeiro, foram ao Terreiro do Paço, Lisboa, mataram o secretário de Estado Miguel de Vasconcelos e aprisionaram a duquesa de Mântua, que governava Portugal em nome de seu primo, Filipe IV.
Era a Restauração, iniciando-se a quarta dinastia com El-Rei D. João IV.
Mas muitos dos rendimentos dos portugueses como os da Índia estavam perdidos para sempre e nunca mais Portugal voltou a ter as glorias da Dinastia de Avis.
Que o dia que hoje se comemora (01 de Dezembro de 2007) seja de reflexão para todo o povo português e seus governantes e que a lição da história vivida pelos nossos antepassados não se repita com os chamados Iberistas que vêm em Espanha a salvação, quando se deviam preocupar em fazer de Portugal um país de respeito, entre as grandes nações.
Nada é impossivel, tudo é possivel, basta haver o querer e a união do nosso nobre povo e dos seus governantes.
Oxalá que D. Sebastião nunca regresse e ainda por cima numa manhã de nevoeiro (crença do povo na época e que se mantám até hoje, para designar certos sebastianismos que continuam a grassar no bom Portugal)
"Morro, mas morro com a Pátria", assim o afirmou Luiz Vaz de Camões, pouco antes do seu falecimento em 10 de Junho de 1580.

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Luiz de Camões

(¹) Foi o Rei D. João III que se preocupou com o domínio do Brasil e o dividiu em capitanias-donatárias, as conhecidas capitanias hereditárias, estabelecendo um governo central em 1548.
D. João III “Foi o verdadeiro criador do Brasil, que rapidamente se tornou o elemento fundamental do império português, assim o sendo até o início do século XIX” (Paulo Drumond Braga, op. cit, pg 145).

(*) Victor Jerónimo é português e vive no Recife – Brasil.
Este artigo foi escrito baseado em factos históricos e em conhecimentos que o autor tem sobre a História de Portugal.

11/11/2007

DA INTERNET PARA O TEATRO TRINDADE EM APENAS UM LUSTRO - A GRANDE VIAGEM DE DANIEL CRISTAL

DA INTERNET PARA O TEATRO TRINDADE EM APENAS UM LUSTRO
A GRANDE VIAGEM DE DANIEL CRISTAL
Falar de alguém da sua obra e da sua trajectória é-me extremamente difícil e por vezes essa análise pode ter pecadilhos involuntários, mas que são feitos de análise profunda do que tenho observado e visto.
Armando Figueiredo com um altérnimo criado Daniel Cristal o homem escritor, poeta, contista, ensaísta e cronista laureado, deu um "salto" daqueles saltos que se dão sem se esperar, sem se contar com ele.
Daniel Cristal que salta do espaço virtual para o espaço teatral, ou seja, da Internet para o espaço cultural da Lisboa cosmopolita.
Analisando a sua trajectória veremos que Armando Figueiredo não era conhecido do vasto público lusófono nem sequer português. Era relativamente conhecido em alguns restritos espaços académicos, jornalísticos, isto porque investia muito pouco na conquista do espaço pertencente à Literatura, especialmente, à Poesia.
Mas, hoje, a sua projecção da virtualidade para a realidade foi tal que não há nenhum espaço na Web onde não seja conhecido nesta específica área da Arte e do Saber.
Armando Figueiredo versus Daniel Cristal passou do espaço virtual, chamado Internet, para a acção cultural do Teatro Trindade, que anima as noites poéticas de Lisboa neste mês de Novembro de 2007.
Sem ter editado livros de papel que parecem não ser necessários para se estar nos grupos de vanguarda literária e ser bastante conhecido, citado e elogiado entre países separados por continentes, o seu percurso foi feito por empatias profundas geradas na Internet, nos chamados sites, websites, portais e blogues; efectivamente, pediram os seus donos, desde o aparecimento do Poeta na Web, poesias e textos seus para serem editados nos seus espaços pessoais, alguns
colectivos, outros jornalísticos.
Num lustro, desde a sua aparição na Net este Autor foi como um espectáculo humano numa viagem de comboio com passagem por muitas e variadas estações, com pessoas a entrar nele, a saudar, a dialogar e a conviver literariamente.
Poucos se apearam, e, quando tiveram que sair, ficou na memória, na maior parte dos casos a afeição e admiração recíprocas. Realmente, o que mais primou neste convívio foi a empatia, e ela percorreu vincadamente e com elegância, todo este trajecto.
Sei que o Autor se surpreendeu com este fenómeno, e não sabe se o há-de aproveitar para aceder ao público livreiro, mundo que nunca lhe interessou verdadeiramente, mas pensa que agora talvez seja oportuno e imperioso deixar algo que possa ser distribuído pelas Livrarias e Bibliotecas, aos leitores que o queiram guardar nas suas estantes para recordar, esses e outros leitores, que durante este lustro se tornaram leitores assíduos e fãs.
O mundo leitor espera por Daniel Cristal e pela oportunidade de colocar na sua estante o(s) livro(s) há tanto esperado(s).
Victor Jerónimo
Vice-Presidente da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores (AVSPE)
Membro da Associação Portuguesa de Poetas (APP)
Membro do Movimento Poético Nacional - Brasil
Editor e proprietário do Grupo Ecos da Poesia

01/11/2007

DISSERTANDO

DISSERTANDO
Victor Jerónimo

Desde que foi descoberto um meio de o ser humano se comunicar à distância, este tem ampliado os seus conhecimentos de forma fantástica. Primeiro o telefone, depois os rádios amadores, lembram-se(?) e agora a internet.
Muito já escrevi sobre os seus perigos e que todos conhecemos, mas há as amizades, as grandes amizades, antes impensáveis entre duas pessoas que não se conheciam fisicamente.
Estes bites mágicos têm-nos transportado aos pontos mais recônditos do planeta e tem-nos feito encontrar verdadeiras almas nobres, singulares, solitárias, mas almas que se encontram com a nossa e nos leva a criarmos uma amizade antes impensada nos meios tradicionais, ou que levariam anos a criarem-se.
Porque aqui estamos sós, como espectadores do mundo e onde temos o grande poder da comunicação, sentimo-nos libertos para escrevermos sobre o que nos apraz e nas amizades
desenvolvermos esse bem de forma carinhosa e amiga. Basta que o caldo mágico esteja na medida certa e que esse bem da procura amiga esteja equitativo para os dois lados.
Neste meio de comunicação o ser humano doa-se no que de mais belo tem dentro de si, criando verdadeiros estágios de solidariedade, companheirismo e devoção.
A preocupação na doença, onde as rezas são um factor a ser estudado, a ansiedade da ausência do outro, o transportar-se em espírito e doação de palavras para ajudar o semelhante são casos
bem concretos no quotidiano internáutico.
Estas amizades evoluem para estados superiores e irmanam-se criando autênticos tratados de arte e gloria que elevados em espírito conduzem a plenitudes de bem estar, amor e carinho.
Amor? Ai o amor esse que provem de uma grande amizade, que é criado não através de desejos carnais mas espirituais e que é tão bem descrito nas religiões.
O amor e adoração que vem desde os primórdios da humanidade, de amarmos o inatingível, de amarmos o desconhecido, de amarmos o bem, é uma aplacação real na internet que não é nova, que sempre existiu, o amarmos o desconhecido.
Muitas destas amizades e amores terminam quando as pessoas se conhecem fisicamente, mas a grande maioria prevalece.
Quando há o encontro físico e o olhar no espelho da alma, os olhos, logo ali ficamos a saber se valeu a pena e que vai valer a pena continuar essa amizade.
Ninguém está isento de defeitos, traumas, problemas muito graves, mas essa amizade nascida assim dificilmente se dissolve se tiver havido esse olhar d'alma.
Recife 01.Nov.2007

21/10/2007

PORQUE RAZÃO?

PORQUE RAZÃO?
Victor Jerónimo

Não sei, realmente não sei. Não sei que razão te assiste para assim comigo falares. Será que a tua razão permite a má educação? Ou será que a tua força da razão é diferente de tudo o que engloba os valores morais do mundo que nos rodeia? Realmente não sei porque razão te consideras o dono do mundo, o dono das pessoas, será que tu és dono do teu dono e a razão mais uma vez te assiste com paradigmas efusivos e balanceados em torpes designios? Porque a razão é tua e não minha ou do nosso semelhante?
Porque razão te crês um ser superior e com a razão absoluta?
Será que a razão das razões podem acobertar toda a maldade, inveja, ódios assassinatos, roubos e até holocaustos?Porque a razão te assiste em tudo o que fazes e a razão dos homens não tem valor?
Porque razão o planeta Terra não pode ser um planeta de paz, amor, concordia resumindo um paraíso?
Que razão tens tu para dominares assim a maldade? Qual a razão que te assiste para em nome das tuas verdades abandonares assim o homem à sua mercê não cuidando dos rebanhos que tanto apregoaste?
Será que a razão a tua razão é a razão que não nos assiste ao comungarmos o bem que queremos?
Porque razão me falas assim? Porque razão falas assim aos meus semelhantes?
Porque razão nos amaldiçoaste?
Porque razão... Porque razão... Porque razão...
Recife 18.Out.2007

30/09/2007

O AMOR?

O AMOR?
Victor Jerónimo

O amor? Ai o amor! Coitado do amor!
Como palavra tem sido usado para todas as crenças, invejas e até maldades, mas raramente a sua essência é usada no que a palavra tem em si, O AMOR.
Sinto-me desiludido e frustrado por ler e ouvir tantos a falarem do AMOR, multidões a apregoarem O AMOR e tão poucos a mostrarem O AMOR.
Mostrarem? Bem, na verdade o amor não se mostra, pratica-se. O verdadeiro amor é humilde, envergonhado e só se mostra quando vemos o bem causado por ele e nunca quando alguém nos vem gritar que nos ama.
Amar é uma sublime doação ao nosso próximo, é saber dar sem a espera do receber é sublimar-nos perante o próximo de maneira a que este entenda que é amado verdadeiramente sem ser necessário dizermos que o amamos.
Vejamos quantos no mundo falam em amor e vejamos quantos verdadeiramente amam...
Ver? É muito difícil ver o amor principalmente se ele não existir no nosso coração. Por isso todos falam em amor mas são cegos a este. Falam porque ouvem falar, falam porque sabem assim chegar mais próximo do coração da pessoa, falam para enganar.
Utilizam a palavra AMOR sem nunca o terem sentido em seus corações e muitos pensam que o sentem, mas verdadeiramente nunca o conheceram.
Amar significa doar, darmos inclusivamente a vida pelo nosso semelhante.
E não sorria ao ler-me porque se o faz, você realmente não ama.
Quantos pais deram a vida pelos filhos e quantos filhos deram a vida pelos pais, mas e aqueles que nem sequer conhecem o semelhante que salvaram e morreram na luta e salvamento deste?E escrevendo sobre o amor entre dois seres, o amor que nos leva a constituir família, o amor com que vivemos para sempre até que a morte nos separe?
Ah, como esse amor existe cada vez menos e como cada vez há mais interesses obscuros numa relação onde falam em amor e este não existe nem nunca existirá, pois que o segredo está na grande e sublime AMIZADE.
Muitos deram a vida por nós, mas tão poucos souberam compreender.
Seria bom que todos tentássemos compreender o amor, seria bom e saudável para nós mesmos, seria bom que nos amassemos para entendermos o verdadeiro amor e depois o soubéssemos compartilhar.
Por favor, não me venha falar de amor, quando eu observo que a sua vida é de ódio.
Não seja mentiroso, ame-se primeiro, mostre por actos e não palavra o quanto ama e depois então falaremos de amor.
Recife, 30.Set.2007

25/09/2007

O DIREITO À LIVRE EXPRESSÃO

O DIREITO À LIVRE EXPRESSÃO
Victor Jerónimo


Quem tem o poder de decisão ou comando peca muitas vezes por uso ditatorial não respeitando o livre arbítrio de cada um e a liberdade de ideias ou dogmas.
É comum em democracia protestarmos quando um dirigente ou governante usa do seu poder "para calar" um determinado jornalista ou mesmo outro político, mas no nosso dia-a-dia
usamos nós mesmos esse poder, se o tivermos, para calar uma determinada pessoa.
É óbvio que nada nos obriga a ouvir ou ler a quem não queremos e aqui entra a nossa liberdade de decisão mas não podemos calar quem numa comunidade usa essa expressão livre consagrada nas mais elementares constituições democráticas.Podemos impedir o acesso a determinada pessoa à nossa casa ou causa, porém não podemos calar quem o divulga ou nele fala.É esta a liberdade de cada um e da mais elementar justiça. Não podemos impor os nossos ideais porém podemo-nos recusar a aceitar os ideais de outros e isto numa sã confraternização entre pessoas dos mesmos objectivos ou não, sejam eles culturais ou políticos.
É necessário ter mito cuidado e ser muito objectivo por quem detém poderes ou governa causas. Estas minhas considerações baseiam-se dentro da liberdade de expressão, porém isso não é causa para que se aceite quem a use para usar palavreado calão ou de baixo teor linguístico, isto principalmente em locais culturais e onde cada um tem o poder da palavra e a sabe usar.
Nada nem ninguém nos pode obrigar a conviver com quem não gostamos e se nos sentimos mal num agrupamento de pessoas ou clube, podemo-nos sempre afastar para não conviver com esse "douto ser" que nos causa repulsa, porém se detemos o poder de decisão podemos impedir o seu acesso à causa.
Não podemos mesmo é cortar a voz a quem dele fala ou escreve pois aqui estaremos a usar poderes ditatoriais incompatíveis com uma democracia que se deseja sã.
Grupos, comunidades, clubes devem assim agir mas resguardando-se no dever e direito de partilhar as suas ideias e ideais comunicando o seu desagrado sobre alguém ou alguma causa que não partilha pois o direito e a expressão é livre para todos.
É certo que a ninguém é obrigatória a presença ou o compartilhamento de ideais que não são os seus mas também é certo que o uso da palavra falada e escrita é um bem maior ao qual temos direito.
E sobretudo não devemos colocar discussões privadas em causa no diálogo acerca de alguém de quem não gostamos.
Os nossos pares não têm que suportar, nem têm que aceitar o que é do nosso foro intimo e particular mesmo que isso nos cause engulhos, é nosso dever nunca colocar na praça pública o que é de foro privado.
É certo que se uma das partes o colocar a outra terá que se defender ou acusar publicamente, mas isso será entrar em dogmas que geralmente não levam a alguma conclusão e que só
deveriam na maioria das vezes e se por grande ofensa serem levadas a Tribunal.
São princípios elementares que nos governam e que a cada dia são mais esquecidos por nós, levando a que a partilha de causas que poderiam ser saudáveis se transformem muitas vezes em guerras sem sentido e onde na maioria das vezes os ditadores ganham.
Depois serão os anos de ignorância e de terror misturados com a proibição da livre expressão que poderiam ter sido evitados por esses mesmos "democratas" que não souberam ser cautelosos.Sei bem o quanto esta questão é controversa e o que aqui expus são apenas pensamentos e ideias de um pequeno escriba.
Que esta pequena leitura o ajude em algo ou causas bem mais positivas da sua vida.
Sejamos democratas com direito à liberdade de expressão, mas saibamos usar essa liberdade para não cairmos nas malhas da ditadura.

25.Set.2007

12/09/2007

VIDAS

VIDAS
(Cadernos Impolutos)
Victor Jerónimo

Formando o caracter nas horas mortas constrangidas do tempo, aquele imberbe garoto pulsante de vida corria através das vielas nuas e escusas procurando alimento para os seus.
A vida nunca lhe sorriu e o pouco tempo nesta vida já lhe havia ensinado que o mundo era cruel e fantamasgórico de caracteres e solidariedades.
O nascer naquele casebre imundo e onde os ratos eram a sua companhia, moldou-lhe a preparação para a vida a que dificilmente iria construir na perfeição da honradez.
Os seus brinquedos eram latas ferrujentas que o transportavam em sonhos próprios de criança e o levavam a mundos imaginários ora de dor ora de esperança, ora negro, ora azul punjente de um céu caiado de matizes.
A fome negra que muitas vezes lhe corroia as entranhas ía-o preparando para a vida dura e carregada de dissabores, mas ao mesmo tempo inculcava-lhe outros valores desconhecidos.
Aceitava tudo com um dom e maestria coisa ausente no mundo que o rodeava e os seus pensamentos vagueavam muitas vezes para flutuações de belos sonhos que o ajudavam a suportar a miséria em que vivia.
Tinha um sorriso enigmático mesmo nas piores situações o que era motivo de admiração na sua família e amigos que o chamavam "cabeça no ar" na falta de outras explicações para este seu estado de alma.
Prazenteiro ele evoluía muitas vezes para estados de alma próximos da plenitude e desejos especiais em encontros sublimes de espírito, num amor transcendente e evolutivo na escala espiritual.
Nestes estados a fome era a sua companheira e a solidão, a prazenteria da sua pequena vida.
Todo o mundo ao seu redor era inexistente e o recolhimento em si mesmo levava-o a estados próximos do extase.
Grande de espírito, não dava valor às carnes e o seu aspecto franzino era tema de dó mesmo entre os miseráveis que o rodeavam.
Porém seus olhos brilhavam, com aquele brilho especial, próprio das almas que vivem em paz consigo mesmas e encantava aos que não entendiam esse brilho.
Ficavam fascinados por eles e por isso muitas vezes nem reparavam a miséria carnal que grassava naquele corpo miserável abandonado e esquecido.
Quando corria nas vielas, roubando aqui e ali a alimentação necessária para o seu corpo franzino e para os seus, o espírito desprendia-se dele entregando-o aos males do mundo e fazendo-o olhar então a realidade que o cercava, tornando-o então e aos poucos violento na procura de bens essenciais à sua sobrevivência carnal.
Nestes estágios da vida o menino franzino tornava-se em menino louco e de forças sobrenaturais que derrubavam tudo o que se interpusesse entre ele e a procura da sua sobrevivência.
A falta de apoio moral e os ensinamentos dos que o rodeavam contribuíam para que neste estagio a sua sobrevivência aflorasse e o levava a cometimentos inglórios e crueis no mundo cruel do despotismo e da luta pela vida.
No roubo não se importava em tirar a vida alheia e tudo levava de rompante, como tudo fosse só seu e a propriedade alheia lhe pertencesse em pleno direito.
Porém quando se recolhia ao seu mundo a graça espiritual voltava e os seus olhos voltavam a brilhar nas contemplações.
É assim que hoje esse menino já homem vive actualmente num cubículo de quatro metros quadrados, na contemplação espiritual que o ajuda a esquecer os crimes horrendos que sua carne cometeu no mundo dos homens.
E assim ficará por toda a sua vida levando a que os outros seres que o rodeiam tenham por si um respeito ou medo próprios daqueles que sabem que sua liberdade terminou e agora há que espiar os pecados cometidos em liberdade.

Recife, 23.Ago.2007

SOMOS SOBREVIVENTES

SOMOS SOBREVIVENTES
Victor Jerónimo

Quando tento olhar para o passado e procuro o sentir do viver a vida dos meus antepassados, quando leio a História e vejo tantos horrores, tantas desgraças, tantos ódios tantas maldades, eu sinto-me um sobrevivente.
Tentar imaginar a vida dos nossos antepassados a partir dos nossos tetravós e recuando cada e cada vez mais no tempo fico a pensar como teriam sido as suas vidas.
Para eu estar aqui neste momento a escrever e a tentar idealizar o que foi, como terá sido?
Eu sinto-me tão pequeno, tão humilde, mas ao mesmo tempo sinto-me um vitorioso, que herdou o sangue, as células, a hereditariedade dos vencedores.
Todos eles foram vencedores sem excepção e todos nós que estamos aqui hoje, somos a herança, somos os sobreviventes.
Basta lermos artigos que nos contam como foi na antiguidade e se quisermos aprofundar, embrenhemo-nos na história, na arqueologia e em todas as matérias que nos levam cada vez mais além.
É cada vez mais notório como as pessoas tentam saber de onde vieram, quem foi a sua ascendência, mas isso só nos leva até uma determinada escala da evolução.
Tentemos recuar mais e mais e ficamos quase em letargia, ao tentar imaginar as cenas que se desenvolviam no quotidiano dos nossos antepassados.
E imagino que todos eles terão morto o seu semelhante para poderem sobreviver ou quem sabe outras causas.
Foi a esperteza, a vilania, a valentia que nos trouxe aqui.
Somos herdeiros de todos os males que assolaram a humanidade ao longo da sua vida.
Mortes, assassinatos, doenças uma luta constante na procura do sobreviver.
Quantos filhos morreram e quantos pais pereceram para que chegassemos aqui.
Temos uma pesada herança que devemos preservar, que nos foi legada por eles e é no conhecimento de causa e no sabermos que devemos partir à procura do bem.
Nada está perdido e tudo está achado.
Tudo? Nem tudo, Creio que muito há ainda a ser descoberto.
Transportamos dentro de nós e em hereditariedade as doenças, a maldade, mas também a bondade, a experiência, tudo pronto a despontar assim estejam formadas as ocasiões para que despolete essa luz.
Somos por isso e actualmente responsáveis pelo que fizermos e pelo que desejamos transmitir às gerações futuras, não só a nível físico mas sobretudo no espiritual, pois tudo fica gravado em nós e somos nós a transmitir aos nossos filhos.

Recife, 16.Jul.2007

07/07/2007

Semana Mundial do Meio Ambiente (2007) e NO RESCALDO DA SEMANA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE (2007)

Semana Mundial do Meio Ambiente (2007)
Victor Jerónimo(*)
Mais uma vez o homem se prepara para nos alertar que estamos doentes de tanto fumo e outros vis dejectos e que o nosso berço vai ficar moribundo.
Mais um ano de avisos e exigências, gritos de declamantes revoltados, jornais escrevendo revoltantes noticias, ambientalistas mostrando que só eles nos podem salvar.
Tudo uma panacéia para curar todos os males, como se fosse possível passar um esponja na sujidade e livrar-nos do juízo que se avizinha final.
A evolução do homem e a grande revolução industrial no século dezoito não foram planeadas para proteger a Terra, aliás pensava-se que vivíamos numa fonte inesgotável de recursos.
Tudo era fácil desde que o homem deixou de ter que lutar pela sua subsistência com a produção artesanal e se integrou nas empresas ou fabricas do senhor que possuía a maquina milagrosa da produção.
As Revoluções Burguesas são as responsáveis da passagem do capitalismo comercial a capitalismo industrial.
Os grandes melhoramentos introduzidos por James Watt no aperfeiçoamento das maquinas a vapor, veio acelarar de forma irreversível a revolução industrial. A utilização indiscriminada do carvão foi o começo da poluição da Terra em alta escala.
O alastramento e o desenvolvimento a todos os continentes provocou o começo do aquecimento global mais tarde agravado de forma irreversível pelo uso indiscriminado do petróleo.
Os derivados do petróleo, principalmente os obtidos pela destilação atmosférica veio criar o ingrediente fatal para o aquecimento global; gasolina, oleo diesel, querosene, óleo combustível, lubrificantes, nafta, gasóleo, dissolventes, parafinas, alcatrão (asfalto) coque, xisto, fertilizantes e o famigerado plástico um horror de produtos altamente poluentes usados em queima, em gases poluidores ou dissolvidos na terra e nas águas.
Grandes meios de transporte chamados petroleiros que têm destruído todo os grandes ecossistemas ainda virgens da poluição, nos grandes desastres em que estes se partem em duas, três, ou mais partes derramando todo o inferno destruidor que trazem alojado nas suas entranhas.
Poluição dos rios até em áreas remotas como o Amazonas, alta degradação da terra de cultivo onde o uso do DDT foi tão grave que este foi proibido, o corte das grandes florestas.
Aletrina, Tetrametrina, Permetrina, Peroxido de Hidrogenio, Alcalinizantes, Sulfonato de Sódio, Solventes Minerais e todo um conjunto de nomes estranhos que nem temos a preocupação de ler, mas que entram em nossas casas como desinfectantes, inecticidas, lixívias, desodorizantes e muitos mais tudo produtos que causam hipersensibilidade cada vez maior ao homem no lidar o dia-a-dia com estes e que por força da sua fabricação já causou um dano trilhões de vezes maior ao nosso planeta.
Todos estes produtos e muitos mais estão tão inseridos na nossa vida e têm nos dados grandes níveis de conforto que os nossos ancestrais nunca tiveram, que difícil vai ser tirá-los do nosso quotidiano.
Todos sabemos que se tal acontecesse seria o caos final.
E os dirigentes de todas as nações têm melhor que nós a percepção dura do que se passa.
Os tratados firmados entre todos o países como o Tratado de Kyoto para a redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa vem-nos mostrar que infelizmente os dirigentes de dois dos maiores países industrializados, USA e Austrália, não aderiram alegando problemas económicos.Como é falsa esta alegação. E os outros países que aderiram não terão o mesmo problema económico?
A politização do estado de saúde do nosso planeta vem mais uma vez mostrar-nos a falsidade, que sempre regeu o homem.
Há que criar comissões ou com qualquer outra designação, mas organizações que tenham o poder de controlar e criar medidas severas para com os países poluidores.
Há que encontrar substitutos não poluentes como por exemplo o hidrogeneo que na sua combustão só emite água e calor.
O homem tem essa grande capacidade de inovar e realmente temos assistido a grandes descobertas para esse melhoramento.
Simplesmente o grande capital não permite a continuidade desses objectivos e só os irá apoiar quando encontrarem neles mais fontes inesgotáveis de receitas que possam substituir as que perderam como o esgotamento ou proibição da emissão de gases poluentes.
Há que começar já e não esperar pelas grandes catástrofes que se avizinham e que serão irreversíveis.
O que está em causa é a sobrevivência da nossa espécie, é a sobrevivência de tudo o que tem vida no nosso amado planeta.
Mas se continuarmos assim este nosso planeta irá desaparecer, irá matar todo o ser vivente existente.Ele continuará até ao fim dos dias, mas será mais um planeta deserto no nosso sistema solar.
(*) Victor Jerónimo Membro 550 da APP - Associação Portuguesa de Poetas; e do GPL - Gabinete Português de Leitura de Pernambuco, Recife/Brasil.
Vice-Presidente da AVSPE - Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores.Esta crónica foi escrita especialmente para o Evento da Semana do Meio Ambiente realizada pela AVSPE.
(http://www.avspe.eti.br/eventos/ambiente/semanadomeioambiente.exe )


Publicado no Jornal Mundo Lusíada


***


NO RESCALDO DA SEMANA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE (2007)
Victor Jerónimo
Termina hoje oficialmente a Semana Mundial do Meio Ambiente. Por todo o mundo, houve palestras, discussões, manifestações, alertas, plantio de arvores, mostras de arvores raras, tudo como forma de consciencializar as pessoas e mostrar-lhes o que já é óbvio (só não vê quem não quer) de que o nosso planeta está uma autentica lixeira.
E se você não acredita e é como S. Tomé, ver para crer, experimente ir para lugares inóspitos, daqueles onde só se chega de 4x4 e depois mais uma grande caminhada e garanto-lhe que alguma garrafinha ou saquinho de plástico você irá encontrar.
Embora tudo seja discurso de circunstância e para a maioria dos políticos seja mais um item a cumprir na sua agenda, os gritos de alerta, manifestações, etc, etc, já são passos importantes para a consciencialização e há que realmente passar da palavra à pratica, começando já pelas escolas com disciplinas sobre o meio ambiente.Entretanto os G8 em Heiligendamm, Alemanha, fizeram um acordo para implementar cortes "substanciais" na emissão de gases do efeito estufa, conforme afirmou a chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel."Em termos de alvos, concordamos com uma linguagem clara...que reconhece que os aumentos nas emissões de CO2 devem primeiro ser interrompidos e depois seguidos por reduções substanciais", disse Merkel a repórteres durante a reunião no balneário de Heiligendamm.
Segundo ela, os países do G8 concordaram em "considerar" a meta dela de um corte de 50 por cento nas emissões até 2050. Mas os líderes não parecem ter se comprometido a metas específicas.
Os EUA têm resistindo às tentativas de Merkel - que comandou a cúpula - de fixar uma meta específica sobre os cortes necessários aos esforços para combater as perigosas alterações no clima.Mas o acordo, todavia, não estabelece metas especificas para a redução mas sim um principio não vinculativo, defendido pela União Europeia, Canadá e Japão, de que essa redução seja de 50 por cento até 2050.E os EUA não se vincularam totalmente entrando no acordo mas com reservas.
Um dos países mais poluidores do nosso planeta e que tem sofrido com as forças desenfreadas da natureza como os furacões entraram no acordo mas com reservas e propondo um novo ciclo de negociações sobre o clima.
Mas talvez eles tenham razão. A tentativa de construírem um escudo de defesa antimíssil que teria parte de seus componentes instalados no Leste Europeu vem nos mostrar que o nosso planeta pode virar em um segundo um planeta mais brilhante que mil sois.Recife, 08.Jun.2007

NASCI TÃO LONGE


(foto de Hernán Zin)


NASCI TÃO LONGE
por Victor Jerónimo

E tu aí tão perto de todas as guerras, fazes-me sentir culpado das ameaças que não vivi.
É certo que a minha geração também sofreu na carne e no espírito os horrores das violações, das bombas, das minas, das balas perdidas na defesa de terras longínquas que diziam ser nossas e apenas porque tivemos o mérito de as descobrir ou terá sido achar? E tu aí tão perto de todas as guerras, fazes-me sentir culpado das ameaças que não vivi, dos sofrimentos sem fim, das bombas enviadas pelos céus de nações que se dizem amigas e que apenas procuram sugar o ouro da tua terra. Homens-bomba a que lhes foi ensinado que o paraíso espera recheado de coisas belas por eles. Até na morte há a ganância de conquistar esse paraíso.
O uso indiscriminado das religiões onde nem uma se salva na procura da Paz terrena. O inculcar do sofrimento ao homem dizendo, pregando que isso é natural como se houvesse prazer no sofrimento.
A educação prenhe de maldade que incute a um pequeno ser o ódio e o transforma numa maquina de matar, seja para roubar ou para salvação da alma, seja para matar a fome ou pelo simples prazer de matar. E tu aí tão perto de todas as guerras, fazes-me sentir culpado das ameaças que não vivi, da fome que não senti.
E com isso sinto-me um homem vil, déspota, com a desgraça lambendo-me as raízes do pensamento, porque não lutei, nem com as palavras. Cobarde acobertei-me nas asas do corvo e calado segui todos estes anos mirando os horrores à minha volta. Não gritei, não fiz ouvir a minha voz, não soube dizer Não, não soube dizer BASTA.
E tu aí tão perto de todas as guerras com o teu corpo ardendo, com tua alma descendo aos infernos, não sabendo o porquê do que te fazem, já não acreditando no que te dizem. E tu aí sem saberes o porquê terminam com tua vida no fogo do inferno.
E eu que nasci tão longe miro em uma foto o teu ultimo sopro de vida. Com pena, com tristeza, talvez com um pouco de horror.
Mas que fazer? eu que nasci tão longe...

Victor Jerónimo



Letras sem nexo e num amplexo

Letras sem nexo e num amplexo
Victor Jerónimo
"Eu gosto tanto de si", "tenho-lhe tanta amizade" e outros disparates que costumamos ler nesta net.
Nada há de mais perigoso que as relações de amizade na net.
Andamos, vegetamos por aqui, queimando tempo e saúde numa ilusão que só termina com a morte.
A dedicação de uns é a paranóia destrutiva de outros. Quem aqui anda anos e anos seguidos vai conhecendo o género humano, acreditem bem melhor no que no real.
Ponhamo-nos como integrantes activos de uma comunidade mas também como observadores. É essencial este observador, para não cairmos no jogo e no logro das seduções e leremos de pessoas que nunca sequer falaram conosco estas ou outras frases parecidas "Eu gosto tanto de si", "tenho-lhe tanta amizade". Se a nossa disposição estiver para o carente aceitamos imediatamente esta afirmação e tentamos mostrar que ainda gostamos mais. Mas se estivermos ali como observadores imediatamente nos aflorará um sorriso de pena acompanhado do inverso, do mal estar, quer dizer, não sabemos se havemos de rir ou chorar.
Esta net está povoada de pessoas carentes, mas também de pessoas maldosas, de vigaristas, de mentirosos e até de assassinos.
Pessoas que inventam situações da sua vida que não têm nada a ver com a realidade, pessoas casadas que se dizem solteiras, operários que se dizem engenheiros, iletrados que se dizem doutores, não esquecendo os ditos jornalistas ou filhos destes que não passam de meros vendedores da banha da cobra.
E ai de quem entrar na net com boas intenções, pois seremos logo crucificados na primeira oportunidade e se nos mostramos bonzinhos ainda podemos levar o rotulo de paneleiro ou outro ainda bem pior.
Há-os por aqui com capa de anjo mas prontos a saltarem e filarem a sua presa na primeira oportunidade e se não o conseguem vai de arranjar uma trama ou tramas para queimar esse individuo.
Depois há que recolher as garras mostrar-se bonzinho e se souber escrever colocar alguns textos a circular sobre problemas psicológicos que atinjam o visado mas sem mostrar que é para ele.
No outro dia vi um paspalho por aí dizendo-se aviador de grandes rotas, que hoje está na América e amanha na China, mas será que o coitado leva o PC quando comanda o avião e está constantemente na net? Coitados dos passageiros ou coitados de nós que acreditamos nele.
E aquele solteirão que é casado há trintas e tantos e cheínho de filhos e netos?
Se andamos tanto tempo aqui como ainda podemos ser enganados assim?
É a nossa disposição o nosso lado bom e carente que nos leva a este desplante muitos deles carnavalescos.
Muita seriedade há nesta net "felizmente" mas que aos poucos e poucos os levam a um afastamento parcial e muitas vezes total. Estes felizmente ou infelizmente vêm a ilusão em que andam e como a maldade e inveja aqui é tanta preferem afastar-se até porque o andar aqui periga e muito a saúde.
São as inactividades totais de longas horas onde o que apenas mexe são as mãos e os olhos, é a leitura de tanto disparate e isto para não falar daqueles que algo inventam para destroçar as boas almas é o sentirmo-nos invejados.
Agora... fico-me por aqui.
11.mai.2007

HIPOCRISIA?

HIPOCRISIA?
Victor Jerónimo
Em nome dos valores (?) da má educação, estamos actualmente a assistir a cenas deploráveis com o uso de palavras de má índole.
E por favor não proteste, porque corre o risco de ser chamado, hipócrita, ditador, censurador, etc.
Bem sei que, a forma como o mundo se apresenta, a vontade é imensa de dar o nome aos bois, mas por favor, tenhamos maneiras, pois a educação continua a ser o maior valor que temos para transmitir aos nossos descendentes. Será isto hipocrisia?
Em nome da arte maior das letras, as pessoas estão a permitir-se usar o calão e o mais grave, como acontece em todos os males deste mundo, as pessoas deixam-se arrastar ou ficam fechadas nos seus casulos com medo de protestar.
Se ao poeta tudo é permitido na arte de poetar, não quer dizer que numa mensagem ele faça uso dessa liberdade. É como um pintor pintar nus, mas não é porque os pinta que ele vai aparecer nu em publico.
Existe uma grande diferença na arte nobre de escrever e na de uma simples mensagem ou artigo, em que as expressões devem ser comedidas e não partirmos para um rol de ofensas a maioria das vezes sem necessidade.
E não estou a ser retrogrado ou de fora da época.
Em tudo há ocasião e momento, mas não usemos essas ocasiões para ofendermos a quem não o devemos fazer.
Mais grave ainda é quando essas ofensas partem de pessoas que têm uma responsabilidade no meio social onde estão inseridas.
As pessoas chegaram ao ponto de já não se contentarem com ofensas pessoais e partem para a agressão através de palavras ao seu próprio país.
E vejamos que quem escreve um protesto não necessita de usar palavras de má educação, pois ao fazer isto está afinal a ser igual ao objecto do seu protesto, está a descer ao mesmo nível dele.
Vejamos que a palavra escrita fere mil vezes mais que a palavra dita. Estamos em um meio literário e onde a ofensa não é necessária. Aliás quando ofendemos com palavras de má índole, estamos a usar palavras que significam muitos males e se rodearmos essas palavras e as transformarmos noutras estaremos a contribuir para o nosso próprio desenvolvimento pessoal.
É muito fácil usar uma palavra ofensiva, o difícil é darmos uma tradução a essa palavra.
Vamos pois contribuir para o melhorar da comunicação entre os nossos semelhantes.
10.Fev.2007

A MALDADE OU O PRINCIPIO DO FIM?

A MALDADE OU O PRINCIPIO DO FIM?
Mensagem de Natal 2006
Victor Jerónimo

Este ano de 2006 irá ficar marcado como o apogeu da maldade ou o principio do fim?.Não o fim do mundo-globo, mas o fim do mundo que conhecemos e se transformou no apogeu da maldicência humana traduzida em palavras ou gestos.
O mal é como um rastilho e quem o começa sabe bem que este se irá propagar rapidamente arrastando consigo outros pequenos rastilhos até à explosão final.Se o bem se propagasse com a mesma intensidade teríamos um mundo de Paz, mas tal não acontece.
O bem demora a construir e faz o homem desconfiar antes de avançar nesta senda, o bem torna as pessoas desconfiadas, antes deste se mostrar em toda a sua pujança.
Isto é o fruto de estarmos tão habituados ao mal que quando nos acenam com o bem, desconfiamos.
As pessoas de boa vontade são tão assediadas pelo mal que terminam fechando-se em casulos para se defenderem. A maldade consegue retirar o poder da meditação, da verdade e da isenção.As maldades conseguem tirar-nos a capacidade de analisarmos com isenção o que se passa à nossa volta e consequentemente com o nosso semelhante. Esta é terreno fértil para muitas vezes defendermos o mal, na crença do bem, sem analisarmos profundamente a parte acusada levando-nos a atitudes impensadas.
A maldade disfarça-se e se mostra nossa amiga para no tempo certo nos desferir o golpe e açoitar-nos com o descalabro próprio dos rancores e invejas há muito reprimidos nas suas almas sórdidas.
Todos somos responsáveis pelo que fazemos e mais cedo ou mais tarde pagamos no dobro o que fizemos. Pudesse o homem ter o bastão da verdade com certeza a maldade seria dominada.
Mas infelizmente vem do fim dos tempos a pendência quase total da humanidade para o mal e agora estamos pagando bem caro os erros que cometemos.
"Filho contra pai, pai contra filho, irmão contra irmão" assim foi escrito e assim está a acontecer.
Tudo vem do inicio dos tempos e na historia de Caim e Abel foi magnificamente descrito o que sempre aconteceu mas que agora atingiu proporções catastróficas.
Crises de terror, violência, depressão tudo isso está a voltar e já nem as religiões conseguem apaziguar os corações, pois também elas foram acometidas do mesmo mal com a agravante de aos poucos estarem a infundir nas pessoas o terror, num retorno aos séculos passados, isto como se não bastasse todo o mal que nos aflige e preocupa.
Poucas são as pessoas sensatas que se apercebem e se analisam tentando entender o que realmente de mau está a acontecer. Serão estas pessoas que talvez vão conseguir parar ou diminuir toda esta maldade.
Mas cuidado com os falsos profetas pois no ordem da Criação só mesmo os limpos conseguirão entrar.
Resta-nos a nós simples mortais esperar e meditar sem cessar.
Que as tramas ditas espirituais ou de religião não impeçam essas pessoas de conquistar o bem.
Lembremo-nos que temos uma geração herdeira e que são eles o reflexo do nosso bem ou mal amanhã. Há que preparar-lhes o caminho para o bem e ensinar-lhes como se combate o mal.
E que este combater não seja de armas mas sim de ações e por isso há o dever de cada um de nós o começar na sua própria casa.
Termino com duas grandes citações:
“Quando as águas da enchente derrubam as casas, e o rio transborda arrastando tudo, quer dizer que há muitos dias começou a chover na serra, ainda que não nos déssemos conta”. Eraclio Zepeda
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."(Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)
Meditem e orem sem cessar neste Natal e que o ano de 2007 possa ser o começo do ano da verdade.
Victor Jerónimo
20.Dez.2006

RECORDAÇÕES

Comboio com máquina a vapor


Ponte da Foz do Cerejo da Linha da Beira Baixa no vale do rio Tejo

RECORDAÇÕES
Victor Jerónimo

Aqueles três meses de ferias escolares eram sempre ansiados pela pequenada do meu tempo pelos chamados Lisboetas e onde muitos de nós íamos passar férias com os nossos avós noutra dimensão e onde a liberdade era quase uma constante.
Tudo começava com os meus pais fazendo a malas cheias de roupas e cestos vazios a devolver aos meus avós que na retorna viriam carregados de produtos cultivados na santa terra, ou de enchidos feitos por eles que tão bem sabiam semear ou criar animais.
Em dia aprazado lá íamos carregados de malas e cestos apanhar o autocarro da carreira 9 em direcção à estação de Santa Apolónia.
Aqui havia as bichas intermináveis nas bilheteiras com sacos, malas, cestos, garrafões tudo à mistura propriedade dos viajantes que ansiavam por serem os primeiros a entrarem no comboio e apanharem o lugar que todos julgavam mais confortável na sua imaginação.
Quando chegava a nossa vez o pai falava pro bilheteiro: "três de 3ª classe para o Fundão". E lá abalávamos com as pesadas malas quase em correria para a gare para apanharmos o comboio com duas horas de antecedência da hora da partida, este já com muita gente ocupando os seus melhores lugares, que são aqueles no meio da carruagem e onde o ponto de gravidade é menor e não balança tanto.
As carruagens eram de madeira com bancos corridos e portas nas extremidades, por fora havia um degrau a todo o comprimento da carruagem por onde o revisor passava de compartimento em compartimento para picar os bilhetes.
Cada carruagem tinha uma placa de madeira que mencionava o destino, pois quando chegávamos ao Entroncamento havia carruagens que se iriam separar, umas com destino à Guarda, outras para o Porto. Era a forma de economizar na época, no aproveitamento de um único comboio que a meio da viagem se partia em vários para outros destinos.
Ocupávamos então os lugares que o meu pai achava serem os melhores. A mãe tirava uma manta da mala para colocar no banco e tornar mais confortável a viagem de nove horas em bancos de madeira.
O pai arrumava as malas e os cestos que ocupavam a bagageira toda acima das nossas cabeças e quem viesse depois que se amanhasse.
Ali ficávamos esperando pela 23 horas, hora da partida, que podia não ser, do comboio que iria percorrer ronceiramente quase 300 km.
Entretanto o pai ficava à porta esperando encontrar alguém conhecido que fosse para o nosso compartimento e assim tornasse a viagem mais amena através de conversas e recordações.
Então e com sorte o comboio partia no horário certo, apitando e muito lentamente aos poucos ía ganhando velocidade.
Era então uma alegria sentir que finalmente iria para as ferias tão esperadas em casa dos meus avós.
O comboio parava em toda as estações e apeadeiros, saíam volumes, entravam volumes, numa azafama constante de quem viaja “quase com a casa às costas” pois havia os que queriam mostrar que não eram tão pobres assim.
Quando o comboio chegava ao Entroncamento ficava parado uma hora nessa estação para mudar de maquina eléctrica para maquina a carvão e conforme o comprimento deste levava uma maquina à frente e outra atrás pois a partir desta estação iríamos percorrer muitas subidas.
Finalmente partíamos no meio de muita fumarada, entravamos na linha de sentido único que nos levaria ao Fundão. Aqui, mais paragens intermináveis em estações para aguardar o comboio que vinha em sentido inverso e muitas vezes sem cumprir o horário ou então esperar um senhor importante que se tinha atrasado.
Viajar nesta linha da Beira Baixa é contemplar uma bela paisagem que serpenteia pelas margens do Rio Tejo acima bordejando as suas águas.
Num comboio antigo com luz quase inexistente e em noite de luar a minha atenção prendia-se nos reflexos da lua nas suas águas que distraíam a minha mente ansiosa em chegar ao destino.
As conversas no compartimento diminuíam vencidas pelo cansaço e sono que a noite nos impunha e o comboio lá seguia ronceiro parando nas intermináveis estações e apeadeiros.
Lá para as tantas a porta do compartimento era aberta pelo revisor que pedia os nossos bilhetes, examinava-os cuidadosamente, não fossem estes falsificados, picava-os e devolvia-nos muitas vezes sem um boa noite sequer. Lembro-me de um revisor o Sr. Paginha um senhor careca e muito simpático que quando fazia essa viagem demorava mais tempo a falar com o meu pai e em geral com os restantes passageiros. Homem evangélico preocupava-se em transmitir-nos palavras de amor e fé.
Em Vila Velha de Rodão o comboio abandonava definitivamente o Tejo para começar a sua escalada em direção a Castelo Branco. O dia já começava a despontar e os olhos a clarear para mais um dia. O dia tão esperado da chegada.
Até Castelo Branco muitas vezes o comboio não conseguia vencer as subidas e lá ficávamos parados à espera que outra maquina chegasse e nos empurrasse em direção ao nosso destino.
Quando isso acontecia era o aproveitar para sairmos do comboio, esticar as pernas ou colher alguma fruta saborosa à beira da linha.
Finalmente Castelo Branco, capital da Beira Baixa, a partir daqui era o contornar interminável da Serra da Gardunha onde o comboio segue interminavelmente por aldeias e aldeias, até chegar ao Fundão.
Finalmente depois de 12 ou 14 horas, com horários que nunca eram cumpridos, chegávamos ao nosso destino, Fundão, capital da cereja, da Cova da Beira e de um dos vales mais férteis de Portugal, que tem como paisagem ao sul a Serra da Gardunha e ao Norte a Serra da Estrela.
Havíamos chegado e minhas ansiadas ferias estavam a começar.


O GAROTO

O GAROTO
Victor Jerónimo

Era um garoto imberbe que há pouco tinha deixado “os cueiros”. Não sabia nada da vida e muito menos de política, mas aqueles camaradas, eram tudo o que tinha na vida.
Aos poucos, entre o verdadeiro e falso, foram fazendo dele um novo camarada. Verdadeiras sessões políticas até às tantas da manhã, em verdadeiras lavagens ao cérebro, foram fazendo dele um candidato a herói.
Garoto imberbe, tornado membro do partido, na clandestinidade.
Começou a distribuir panfletos pelas caixas do correio dos moradores da cidade. Falava em surdina com outras pessoas, mas sempre de olho bem aberto não fosse algum bufo passar e ouvir.
Mais tarde começou a escrever para o jornal do partido na clandestinidade, artigos políticos, contra o governo. Começou então a ficar na mira da polícia. Um dia prenderam-no.
Torturaram-no pelo sono, pela estátua, pela água, pelos choques elétricos. Mas sua boca permaneceu fechada. Não resistiu.
Garoto imberbe que há pouco tinha deixado “os cueiros”, virou herói e... morreu.
Com direito a notícia no jornal.
Foi encontrado já sem vida, na Rua da Morte o Senhor Fulano de dezenove anos. A polícia pensa que foi assassinado numa rixa de bandos.
Passaram os anos. Hoje o Sr Fulano nem recordado, é; aliás, um amigo que lhe restou recorda-o, mas não o pode provar. As poucas notícias acerca dele, pereceram num incêndio que houve lá no partido.
Os camaradas... esses... hoje, governam o país e não têm tempo para recordações tão singelas.
Coitado, devia ter tido mais cuidado, o garoto.

Lisboa, Dezembro/2003

FANTASIA OU REALIDADE?

FANTASIA OU REALIDADE?
Victor Jerónimo

Deambulando pela primeira vez aos cinquenta e três anos por terras da estranja como residente, tenho observado como o português é tratado pela Mãe-Pátria.
Cinquenta e três anos foi o tempo que vivi em Portugal. Sendo cidadão português nado e criado na capital sempre me senti um previligiado, talvez porque a História de Portugal assim nos ensina desde pequeninos. Fomos donos de um vasto Império multiplicamo-nos pelo mundo, desbravamos o impossível para a época, fomos guerreiros, conquistadores, descobridores.
“Demos novos mundos ao mundo” , alcançamos a glória e a riqueza. Perante um manancial de tantos feitos históricos seria normal que os actuais (presentes e passados) governos portugueses se sacrificassem pelo grande povo que têm.
Mas não, eles atingem aquilo que o povo lhes dá, o poder, depois é vê-los quais andorinhas andarilhas por todo o mundo envaidecidos da sua soberba.
Em todos os países que visitam há portugueses, isto porque não há um cantinho do mundo livre de portugueses, mas estes nunca são honrados nas suas mais pequenas necessidades. Quando o são, são-no não por mérito próprio mas porque a diplomacia assim o aconselha. Tudo isto era-me desconhecido, digamos eu já sabia um pouco por méritos de amigos meus em terras da estranja, mas como todo o português, aconchegado na Mãe-Pátria, pensava haver muito exagero.
Não senhor, não há exagero e agora sei, pois o vejo in loco que esses amigos não me contaram tudo.
Qualquer estrangeiro em Portugal é defendido pelos respectivos países de onde são originários tudo fazem para que esse cidadão seja bem tratado em Portugal, havendo muitas vezes grandes protestos diplomáticos, até por ninharias.
O Português no estrangeiro não, não tem quase apoio nenhum dos nossos queridos Governos e escondendo-se em leis absurdas do país em que estão inseridos tudo fazem para dificultar a vida ao pobre cidadão português.
Não entro em factos tão bem conhecidos de todos e esta crónica não é um protesto, antes sim um lamento de o nosso querido Povo, que luta e trabalha por melhor qualidade de vida, enriquece e faz enriquecer o país onde estão inseridos mas que não consegue ter em Portugal defesa ou ajuda por problemas muitas vezes tão fáceis de resolver e seja tão maltratado pelos nossos Governos.

28.10.2004

DEFICIENTE

DEFICIENTE
Victor Jerónimo
Durante 45 anos usei daqueles óculos com lentes denominadas na gíria popular "fundo de garrafa". A minha alta miopia assim me obrigava a usar estes óculos. Por causa deles fui excluído socialmente em muitos locais, tendo mesmo dificuldade em ter um emprego ou mesmo um amigo. Aliás como muitos de nós somos alcunhados a minha alcunha era o "vidrinhos".Muitos dos chamados amigos eram-no por pena do coitadinho que usava aqueles óculos.Aos 45 anos e depois de três operações adquiri o estatuto de bonito e fui aos poucos sendo integrado socialmente.Hoje uso óculos normais ou por opção não os uso mesmo.Em virtude desta exclusão fui reparando no meu semelhante e nos que como eu estavam na mesma situação ou em situações deveras piores.Por um acaso do destino fiz amizade com o "José Manuel". Ele sofria de paralisia infantil nos membros inferiores e andava de muletas. Com ele e através dele aprendi muito sobre essa exclusão. Tínhamos então 15 anos e a sua postura perante a vida ensinou-me que eu não era um coitadinho e que podia lutar e vencer.Muitos anos mais tarde dei apoio em uma associação para crianças carenciadas e abandonadas. Muitas destas crianças eram deficientes e pude apreciar o quão de normais e lutadoras são essas crianças. Elas não tinham pai nem mãe mas perante a sociedade que as rodeava elas mostravam na sua inocência, a força e saber de verdadeiros lutadores.Actualmente muito tenho lido e observado sobre os protestos de pessoas nobres e que lutam pela integração na sociedade dessas crianças.Em boa verdade as pessoas estão cada vez mais introvertidas, fechando-se nos seus casulos e desaprendendo o bem maior da humanidade, o agir e tomar decisões comunitárias que começam logo no interagir com o vizinho, o amigo, o marido, o companheiro ou os filhos. Cada um de nós perdeu o dialogo construtivo com quem nos cercávamos levando às situações de solidão e carência que cada vez mais aflige cada um de nós.É na união, primeiro em casa, depois em comunidade que começa o desenvolvimento de uma nação e neste caso o desenvolvimento humano do carinho, amizade e de vermos como nossos iguais o deficiente que vive no nosso prédio ou na nossa rua.E esse desenvolvimento tem que começar logo de pequeninos, ensinando às nossas crianças que o deficiente é uma pessoa normal, mas que por força do destino nasceu ou ficou assim assim e como tal ele deve ser tratado não como um atrasado mas sim como alguém de muito valor na nossa sociedade.Se assim começarmos, estaremos a criar bases sólidas para que nas escolas lhes seja dado o devido valor, estaremos a criar bases sólidas para que certos governos se preocupem verdadeiramente com eles fazendo cumprir as leis e não as ter meramente escritas.Somos uma sociedade introvertida, mas queixamo-nos de todos os males que nos afligem, maus governos, maus amigos, maus companheiros, maus vizinhos e não olhamos para nós mesmos.Estamos sempre prontos a apontar defeitos nos outros, esquecendo-nos que nosso maior defeito reside em nós.Temos pena dos deficientes, porém confrontados directamente com eles não os ajudamos ou pior ainda adoptamos um sentimento de vergonha e culpa afastando-nos o mais rapidamente possível dele.Não conseguimos ter uma conversa com eles sem estarmos sempre a olhar para a sua deficiência.Sejamos capazes e humanos e olhemos à nossa volta. Sejamos reais e objectivos e tratemo-los com carinho, compreensão e real valor.
Recife, 05.set.2005

BOM DIA PRIMAVERA/BOM DIA OUTONO

BOM DIA PRIMAVERA/BOM DIA OUTONO
Victor Jerónimo

Como é linda a Primavera. O renascer da vida em todas as suas matizes nos recorda a beleza do viver. Tudo renasce e tudo se transforma numa matiz de cores e efeitos espectaculares à vista e ao espírito e até nas grandes cidades se sente a mudança.
Há os espíritos fechados que não notam essa mudança, é certo, mas sentem-na embora não aceitem os seus efeitos, é assim na vida é assim no renascer.
O Outono nos traz o ocaso da vida, mas quanta beleza existe nesse ocaso. Sim porque no ocaso também existe a beleza.
No envelhecer há as mudanças de cor, o aprender da vida, a sublimação do espírito, que nos vai preparando para o desfecho da mudança e o renascer em outro plano.
Todo o planeta nos transmite estas mensagens de amor e fé embora o ser humano seja cego às transformações. Tem medo de enfrentar o desconhecido e de abandonar as suas conquistas, como que se sentido traído em algo que não pediu.Mas a vida é assim mesmo, um nascer, um viver, um ocaso, um morrer. Uma Primavera, um Verão, um Outono, um Inverno, cada estação com sua beleza, mas as mais belas são a Primavera e o Outono.Conforme o Hemisfério que tenhamos uma boa Primavera e saibamos aproveitar o Outono.

ATÉ QUANDO PORTUGAL

ATÉ QUANDO PORTUGAL
Victor Jerónimo

Até quando continuará a desgraça que continua a grassar no nosso ex-lindo Portugal.
Até quando os homens que escolhemos para governar-nos tomam medidas eficazes para minorar este mal, sim, porque o calor não é desculpa para tudo nem o principal responsável. A maldade de uns quantos, isso sim, aliado ao intenso calor conseguem transformar Portugal no Inferno de Dante.
Até quando nós portugueses, habitantes deste pequeno quadradinho na ponta da Europa teremos a coragem de cuidar da nossa terra, através da vigilância e do cuidar das matas que grassam nas nossas florestas como autentica pólvora à espera que acendam o rastilho?
A riqueza leva ao abandono do que nos é querido, a pobreza da alma apodera-se de todos nós e nos leva à recusa do agir em prol da dignidade e do valor humano.
Se antes fomos grandes descobridores e grandes lutadores, agora há que ser grandes guardadores. Aprender a guardar o que resta da nossa riqueza é dever de cada um de nós, é dever de cada governante, é dever dos orgãos maximos da nossa nação, é um dever que nos assiste por direito baseados no querer e na força de um povo.

06 Agosto 2005

10/01/2007

O PESO, UM PESO...

O PESO, UM PESO...
Victor Jerónimo

Antigamente(?!) estará assim tão longe? Mas, há uns anos por esta época era uma alegria imensa festejar o final do ano. Mais um ano havia passado e tinha chegado, Graças a Deus. Os anos corriam pachorrentos e por vezes até demasiadamente lentos.Então quando buscava um objectivo na vida, como a compra de casa, de um carro ou outra grande compra própria de uma sociedade de consumo, dizia eu, os anos demoravam mesmo a passar.
Depois havia o emprego por vezes enfadonho onde as caras eram sempre as mesmas, os temas também e se tínhamos um superior com azeites então aí não era só a lentidão dos anos, era a lentidão dos dias.Sempre na procura de um objectivo e na ânsia de dias melhores essa lentidão por vezes era exasperante.
E os anos foram passando até que um dia olhamos para trás e aí paramos, primeiro surpresos, depois tristes e de seguida olhamo-nos dando conta e pensando amarguradamente, como foi possível!. Entramos na meia idade ou estamos velhos.
Os anos que antes forçávamos a passar e aquela alegria efusiva de entrarmos no novo ano transformou-se em receio e em alguns casos até em medo.
Começamos por descobrir isso quando nos aposentamos, quando nossa mente deixou de estar ocupadíssima ou a nossa vida deixa de ter o ciclo infernal do trabalho; quando enfim nosso corpo descansa e a nossa mente antes ocupada pelas fervilhantes ideias e contratos de trabalho ou outros se dirige para o nosso eu e nos leva a encarar com olhos de investigador o que foi a nossa vida. Ou então descobrimos isso num aniversário, naquele aniversário em que olhamos para o numero e pensamos, como pode ser?
Depois há a passagem do ano em que sentimos que a euforia se foi, não por falta de objectivos, pois perdê-los é morrer, mas sim porque começamos a sentir o peso, um peso...
Claro que há a alegria de termos vivido mais um ano e quem é religioso agradece isso ao Altíssimo, mas já se sobrepõe aquela sensação bem nítida de que passou um ano, tão rápido, tão rápido... que sentimos uma angustia quase doentia e no nosso intimo desejamos que o tempo, pare.Pare aqui ou que pelo menos reduza essa velocidade cada vez maior da passagem veloz dos minutos, das horas, dos dias, dos... anos.
E então recordamos o quão efémera é a nossa vida, o quão rápido é a nossa passagem terrena e aqui recordamos também os que se foram, os nossos entes queridos, os amigos, os grandes homens e mulheres que tivemos de referencia ou foram referenciados na nossa vida, todos ou quase todos se foram e então aí sentimos a verdadeira solidão e... medo.
O nosso tempo foi-se. Agora é tempo dos mais novos. É tempo de olharmos com outros olhos e darmos-lhes o direito à sua vida.
É tempo de afirmação, de consolidação e de amor. É tempo de nos prepararmos.
Que mais um ano venha e que o possamos percorrer calmamente, sem muitos percalços e com um sorriso de esperança nos lábios.Mas, oh Deus, este ano passou tão rápido!...

Recife 29.Dez.2006

A PROPÓSITO DOS DIREITOS AUTORAIS E EDITORIAIS

A PROPÓSITO DOS DIREITOS AUTORAIS E EDITORIAIS
Victor Jerónimo

Numa altura em que decorrem algumas questões sobre direitos autorais na internet e se inflamam corações e espíritos, há que olharmos serenamente e estarmos atentos ao que se passa neste campo lá fora.
Quando vejo poetas digladiarem-se sobre direitos autorais em discussões muitas vezes vazias de sentido eu aqui deste lado estremeço.
Fui das primeiras pessoas a não permitir nos meus grupos, primeiro no Grupo Torre de Belém fundado em 1999 e mais tarde no Grupos Ecos da Poesia ( http://ecosdapoesia.net ) a publicação de textos de Autoria Desconhecida (AD), formalizando isso em normas e onde todos os novos participantes as recebem.
Sendo este um primeiro passo para evitar o plagio, plagio esse definido nos padrões actuais e em normas de direitos autorais de vários países que o definem como cópia integral de um texto, mudando a autoria. Mas a matéria é bem mais extensa o que causa os mais diversos direitos de opinião e onde nós devemos aceitar e estudar caso a caso.
O que é triste e lamentável é que certos poetas se arroguem no direito de ter a razão e alguns entrem mesmo no campo das ofensas publicas e privadas.
Grandes poetas e pessoas que considero de bem e onde muitos se conhecem pessoalmente deviam dar o exemplo de bem-estar na net. Dar a sua opinião é saudável, entrar em ofensas e acusações públicas denegrindo este ou aquele é triste, lamentável e de muito má fé, pois primeiro estão a querer impingir a quem os lê, situações que não existem, depois estão a criar a proliferação da má imagem que a net já tem.
Sejamos concisos, demos a nossa opinião e saibamos respeitar a opinião dos outros sem entrar em ofensas pessoais. Afinal os grandes doutores em leis não entram nestas discussões, deixando para os tribunais as grandes decisões. A nós cabe-nos a opinião, sem ofensas, a vós cabe-vos respeitar a opinião e dar a vossa sem ofensas e vice-versa.
Seria tão saudável se todos pudessemos dar a nossa opinião sem medo de sermos ofendidos!...

23.jun.2006

A MALDADE

A MALDADE
Victor Jeronimo

Ei-la como corre veloz entre as pedras da sabedoria, contornando-as com mestria e fugindo ao seu contacto voraz. Tem a esperteza das forças que regem as maldades sublimes e a hipocrisia dos grandes senhores do mal.
Volteia-se à direita e à esquerda, sobe acima passa por baixo mas evita as pedras que a podiam ensinar e mostrar-lhe as verdades sublimes.
E por aí ela vai apoiada ora aqui, ora ali por seres malvados que vivem nos abismos da ingratidão.
São formas apoclipticas e sem força vivendo ao sabor dos ventos do mal sem nunca terem a vontade do viver no saber e a coragem de quererem adquirir um pouco de verdade nas suas vidas.
E assim vão percorrendo os caminhos e infiltrando-se entre nós como se fora mel, mas mel feito do ácido amargo da maldade.
Seguram-se nas trevas dos inconscientes e minam-lhes as vontades, fazendo-os agir com raiva e morte não olhando a escuridão que espalham no mundo.
Mas um dia a verdade triunfará e tal como um vulcão jorrando das entranhas da terra esta se espalhará com força e vontade e abrirá os olhos dos que não viam e mostrará o espirito dos que sempre lutaram em prol da sabedoria.

08.08.2005

O TEMPO

O TEMPO
Victor Jerónimo

O tempo corre veloz, fazendo-me perder o inantigivel final das verdades sublimes. As horas trespassam-me como lanças que me ferem no âmago da minha alma. Nada mas mesmo nada se pode arvorar de tempo vivido pois este traidor nos foge como areia entre os dedos. Dedos carcomidos do tempo calejados de angustias vividas mas que mesmo estas se perderam no tempo. Nada sobra para recordar pois o tempo tudo apagou e nem a memoria consegue recordar o vivido em paz ou em guerra pois essa tambem se perdeu. As mãos procuram no vacuo do tempo segurar este, mas ele veloz como uma seta foge-nos sem o podermos controlar e tudo, mas mesmo tudo corre inexoravelmente para o fim que se avizinha cada dia mais perto. Quando ele chegar os olhos se fecharão o sopro findará e finalmente o tempo, esse tempo vencerá ao trespassar-nos a alma. Depois, depois será o vácuo o final onde não mais haverá a preocupação do tempo.

08.08.2005

OS OLHOS TRAEM

OS OLHOS TRAEM
Victor Jerónimo

Quantas vezes no nosso quotidiano e com as pressas de passar à tarefa seguinte os olhos nos traem. Tem esta cronica o objectivo de um caso recente de alguém que foi traído pelos olhos e afirmou públicamente e com certezas algo de que o tinham acusado. Quando ele recebeu novamente a cópia do que lhe tinham enviado, com o pedido para que relesse o que estava escrito, essa pessoa sentiu-se em situação delicada.
Quando recebemos uma carta ou uma mensagem lemos muita vez em "corrida" e passamos logo à seguinte. Por vezes lemos aquilo que nossa mente tem para predisposição no momento.
Trabalhei numa grande empresa e por vezes pedia insistentemente aos funcionários que antes de responderem a uma mensagem a relessem novamente e se acaso houvesse duvidas tornassem a ler as vezes que fossem necessárias.
Esta perda de tempo que nós consideramos assim, não o é, se tomarmos em conta as situações infelizes ou dramáticas que ocorrem de algo mal lido.
Há também as situações de escrevermos algo em "corrido" e não fazemos a revisão do texto, o que ocasiona muitas vezes erros colossais gramaticais.
Perca um pouquito de tempo e revise o texto, verá que irá ganhar tempo ao tempo procedendo assim e mais tarde não terá que passar muitas vezes por situações melindrosas.
Por isso cuidado, os olhos traem e a mente ajuda.

01.10.2004

PATRIARCAS VERSUS MATRIARCAS

PATRIARCAS VERSUS MATRIARCAS
Victor Jerónimo

Muito se tem falado no matriarcado, e pouco valor se dá ao patriarcado. Entendo que a mulher seja a sofredora, não é ela que gera?, mas e o papel do homem na sociedade familiar?.
Vejamos os casos de casais em que os dois trabalham, em que os dois cuidam dos filhos, da casa, incluindo alimentação, limpeza, conservação. Hoje o homem desempenha na família o status de dono de casa, em que cuida desta com o mesmo carinho e amor que a mulher, não só por ocupação empresarial ou outra em que esta não pode dar assistência à casa, mas também como um gosto requintado que se traduz em amor à familia pelo homem.
Hoje a grande maioria dos nossos homens cuida do seu filho desde a nascença, facto reconhecido em certos países com as licenças de paternidade, desde o amamentar a mudar as fraldas, acordar durante a noite para embalar o bébé, tudo actos que pertenciam à mãe matriarca e que hoje estão muito mudados no conceito da sociedade moderna.
Por isso é de lamentar que ainda exista o homem machão que verga a mulher sobre o peso do autoritarismo ou o “lá em casa quem manda é a minha mulher, mas quem manda nela sou eu”, próprio dos patriarcados do século passado.
Igualmente é de lamentar que as mulheres continuem a refugiar-se no papel do sexo fraco nos casos de separação e que a grande maioria dos juízes continuem a pender com as suas decisões a favor da mulher, sendo comum, eles levarem testemunhas masculinas e elas femininas, como se cada um fossem defender o seu clube.
Se a mulher quer realmente demonstrar o seu valor que estas se assumam por inteiro quer na vida quer na chamada hora da “verdade” e deixem de fazer o papel de vitimas da sociedade. Uma grande maioria dos homens já as apoia e só falta a grande maioria das mulheres assumirem-se.
Então poderemos ter a certeza de estar a contribuir para um mundo melhor e onde a igualdade será realmente um facto.

30.08.2004

CARTA A UM AMIGO

CARTA A UM AMIGO
Victor Jerónimo

Quando temos o privilégio ocasionado ou ditado pelo acaso ou quem sabe por um deus superior de reencontrar um amigo a nossa viagem ao passado fica presente e as boas recordações afloram imediatamente como se tivéssemos parado no tempo. Depois e só muito depois vem o actualizar do tempo perdido. Comigo já tive essa felicidade a de reencontrar amigos que se perderam em contacto na malfadada guerra colonial e que quando regressaram vinham bem diferentes seguindo então uma nova vida, não reatando os seus contactos antigos para e só depois de dezenas de anos passados os reencontrar.Isto talvez porque a inocência ficou perdida naquela selva de bichos malvados personificados pelo homem e que destruiu a inocência da nossa juventude, transformando-os em homens amargurados e assustados por toda uma geração. Jovens que regressaram ficando entregues à sua sorte levando toda uma vida para se recuperarem daquilo que agora "soy" bem dizer-se stress pós-traumatico o que para o "bem" das novas gerações tem apoio medico e psicológico para que estes não sofram tanto as amarguras que sofreram os seus pais e que agora são sofridas lá nos desertos das arábias.Mas voltando ao reencontro de amigos perdidos à muitos e muitos anos, temos um regressar à nossa juventude que aliado aos dotes actuais nos proporcionam momentos bem agradáveis e inesquecíveis.É o reviver do que chamamos os bons tempos é o aclarar dos nossos espíritos é a lavagem do corpo traduzida naquelas simples brincadeiras da juventude e que nos faz voltar a ser jovens ainda que por pequeno período de tempo.Sim porque isto de termos um espírito jovem na nossa idade, não é para qualquer um. Primeiro têm que estar reunidas as condições psicológicas que nos levam a isso. Isso pode acontecer no nos revermos numa criança, participando nas suas brincadeiras, pode também ser o usar o nosso imaginário das belas recordações transformando-as, não em saudades que nos atormentam mas sim no reviver actual dessas situações.Se conseguirmos atingir este estágio poderemos então apreciar o mundo à nossa volta, aquele mundo traduzido num lindo nascer do sol, nas belas flores que nos rodeiam, mesmo que estas estejam num canteiro cheio de lixo, nos pássaros que voam e cantam nos seus belos trinados isto apesar de eles respirarem o mesmo ar super poluído que nós respiramos e vermos um ocaso do sol, vermelho e belo apesar de sabermos que grande parte dessa beleza é o resultado dos gases que poluem a nossa atmosfera e, então, à noite, podermos na nossa cama sonhar com o belo dia que revivemos.Bem, este meu reviver pode não ser o mesmo que o teu mas o que importa mesmo é a recordação do reviver da nossa beleza interior, perdida que esteve nos meandros da preocupação e muitas vezes da maldade do dia a dia.Mas, como estava a mencionar lá atrás e abro aqui um pequeno parêntesis: a minha cabeça já não é o que era, levando-me a saltar de tema para tema, deambulando por outros e esquecendo o tópico principal desta minha carta.Mas voltemos ao que estava a dizer. Reviver os amigos é algo mesmo belo principalmente quando não os vemos há vinte e trinta anos.Olha meu amigo, vou terminar aqui, na próxima te escrevo mais, agora vou dormir um pouco pois fiquei muito cansado com o esforço mental ao escrever esta carta
Um abraço do teu amigo

07.Set.2005

O PESO DO OURO

O PESO DO OURO
Victor Jerónimo

Sinhõ... pão por Deus.
Minha mãe tá tuberculosa
Meu pai em cadeira de rodas
E eu sou pequeno pa trabalhar.
Cenas como estas deambulam em muitos lugares no mundo, esta particularmente a recordo nas minhas viagens diárias para o emprego. Crianças sujas com estes cartazes em papelão, no meio de senhores e senhoras perfumadas que fingiam dormir, ou estarem distraídas com uma leitura de momento. Ele arrasta-se de vagão em vagão, sem pernas, uns tamancos nas mãos, que substituem os pés, pendurado ao pescoço uma lata e um cartaz: - Tenham dó e piedade desta pobre alma, que não tem o que comer.O comboio rola, vencendo os trilhos de ferro, lá dentro o povo trabalhador, segue impávido, sereno e pensa, coitadinho, que horror. De vez em quando lá cai uma pequena moeda na latinha.Os olhos do invalido brilham como se tivesse ganho na lotaria. Ela ainda menina, mas já bem "apetrechada" vai ganhar a vida na... rua.Sua mãe assim o faz há muitos anos e seu pai esse... nunca existiu.Quase como que uma tradição de família, a menina, vai ganhar a vida, pois sua mãe está velha e cansada e os homens já não a querem.Preferem a carne fresca... a carne acabada de sair da infância, para entrar directamente no mundo da prostituição. Tantos, milhares, milhões, biliões de casos iguais, diferentes, mas todos em busca do pão. Pão que é tirado das searas em ouro, por homens que trabalham para um patrão, que o vende a peso de ouro.Em países com leis que destroem o excesso de produção, dando mais ouro a esse patrão.Destruição dos excessos de produção, que não podem matar a fome no mundo, pois destroi a balança de pagamentos.O ouro, que faz e desfaz, em nós complexos.Quem o tem chama-lhe seu. Quem o não tem, arrasta-se, chora e até mata por ele.Ouro esse vil metal, que podia ser do bem.Quantos séculos, ou milénios ainda terão que passar para que o homem, entenda, que o mundo pode ser um paraíso?

07.Set.2005

O CARVOEIRO

O CARVOEIRO
Victor Jerónimo

Não havia o que comer e beber quase também não.
Era assim até depois da segunda guerra mundial em montes perdidos das Beiras, em Portugal.
A água gelava nas fontes, o frio era intenso e o agasalho muito pouco. Serviam as sarapilheiras de cobertor e os cavacos eram bem poucos para acender o lume.
Havia grandes pinhais, mas estes eram guardados pelos donos e mato não havia, já tinha sido roçado. Os poucos cavacos eram dos donos dos pinhais.
Por vezes lá se encontrava algum tojo para aquecer o lume, mas até esses eram uma raridade. Os carvoeiros precisavam deles para fazer o carvão e não era tarefa fácil.
Iam para os montes, longe das propriedades, abriam um buraco no solo o mais profundo possível e de preferência redondo; enchiam-nos com tojos e caruma. Depois de acenderem o fogo, havia que tapar o buraco com terra, deixando um pequeno respiradouro, para este não apagar. E assim tinham que ficar entre uma a duas semanas perto dos seus buracos, pois havia o perigo de algum ladrão os roubar.
Era assim que o Manel fazia anos a fio. Tinha mulher e seis filhos para criar.
Naquele ano o Manel estava com sorte, o ano estava a ser muito frio nas cidades e a venda do carvão estava em alta. Nesse ano ele tinha começado a fazer o seu carvão mais cedo, mas agora o frio era tanto que ele não conseguiu subir aos montes.
Tinha acabado de regressar da cidade e tinha o produto da venda consigo numa bolsa por dentro das calças e presa na perna.
Escolheu um terreno baldio lá para os lados de uma quinta procurando um abrigo. O frio nesse dia apertava tanto que ele foi recolher-se debaixo de uns beirais da loja da quinta.
Foi aí nesse beiral que o Manel, homem honesto, trabalhador e amigo do seu amigo foi encontrado sem calças e morto.
Hoje o dono da quinta é um rico industrial, que começou a fazer riqueza depois da morte do Manel.
Ele há coisas...

11-02-2004

Publicado como Editorial no jornal “O CANTINHO DO BACALHAU” Recife/Brasil, jornal de circulação entre todas as comunidades portuguesas espalhados pelo Mundo

ÁGUA... PRESERVAR É PRECISO

ÁGUA... PRESERVAR É PRECISO
Victor Jerónimo

Quando era menino passava com a minha família dias lindos na praia da Cruz Quebrada. Ali onde o Tejo entra em agonia e se entrega ao mar recordo as belas barracas coloridas em tiras de várias cores, um pontão de onde os banhistas mais afoitos se lançavam à água e onde os pescadores pescavam lindos peixes.
O comboio passava mesmo junto à praia deixando centenas de pessoa nesta e um pouco mais longe havia os elétricos que terminavam a sua linha ali no vizinho Jamor, transportando para a praia inúmeros banhistas.
Era uma praia de águas límpidas e pequenas ondas convidando ao deleite e ao prazer de um bom banho. Mesmo junto à praia desaguava o lindo Rio Jamor, cantado por poetas e frequentado por amantes. Nós as crianças brincavamos livres e alegremente, por toda a praia, sem receio de pisarmos uma lata, uma seringa ou qualquer outro objecto por demais perigosos que hoje jazem esquecidos e abandonados nas nossas praias.
Mais à frente havia outra praia a de Paço de Arcos, que tinha no seu seguimento umas belas rochas onde o pai em seus buracos caçava lindas sapateiras e onde a mãe as cozia em seguida em lautos almoços à sombra de frondosas arvores junto a essa praia.
Entre estas rochas e ali mesmo juntinho ao mar brotava uma nascente de água doce e cristalina de onde bebiamos a sua preciosa e agradável água.
E como este, muitos e muitos lugares quase paraísos havia junto às nossas cidades e que o homem no espaço de 30 anos destruiu completamente.
Lembro-me do Rio Zêzere que hoje abastece a cidade de Lisboa, depois de a sua água ser decantada, filtrada e tratada quimicamente.
Este rio corria entre os seus meandros com águas limpissimas, peixe abundante e no verão quando secava, deixava lindas lagoas aprazíveis para tomar banho. Hoje o rio não seca, o homem não deixa, com os contínuos vazares de águas residenciais e industriais, o homem encarregou-se de não deixar secar o rio no Verão, este corre continuamente em autentico esgoto a céu aberto e sem vida.
Estes são apenas três pequenos exemplos num pequeno país chamado Portugal.
Hoje vivo no Brasil o país que tem 70 % de água potável no planeta e leio, vejo, o não cuidar das suas águas, desde os seus dirigentes até ao mais pequeno ser humano. Todos esbanjam, todos sujam, não fazem aproveitamentos, falta a água continuamente, há falta de recursos. Em Portugal, como no Brasil como em todo o Mundo a água fonte da vida, está a transformar-se em fonte da morte.
Quando será que o homem acorda?

29.Ago.2006