10/01/2007

O PESO, UM PESO...

O PESO, UM PESO...
Victor Jerónimo

Antigamente(?!) estará assim tão longe? Mas, há uns anos por esta época era uma alegria imensa festejar o final do ano. Mais um ano havia passado e tinha chegado, Graças a Deus. Os anos corriam pachorrentos e por vezes até demasiadamente lentos.Então quando buscava um objectivo na vida, como a compra de casa, de um carro ou outra grande compra própria de uma sociedade de consumo, dizia eu, os anos demoravam mesmo a passar.
Depois havia o emprego por vezes enfadonho onde as caras eram sempre as mesmas, os temas também e se tínhamos um superior com azeites então aí não era só a lentidão dos anos, era a lentidão dos dias.Sempre na procura de um objectivo e na ânsia de dias melhores essa lentidão por vezes era exasperante.
E os anos foram passando até que um dia olhamos para trás e aí paramos, primeiro surpresos, depois tristes e de seguida olhamo-nos dando conta e pensando amarguradamente, como foi possível!. Entramos na meia idade ou estamos velhos.
Os anos que antes forçávamos a passar e aquela alegria efusiva de entrarmos no novo ano transformou-se em receio e em alguns casos até em medo.
Começamos por descobrir isso quando nos aposentamos, quando nossa mente deixou de estar ocupadíssima ou a nossa vida deixa de ter o ciclo infernal do trabalho; quando enfim nosso corpo descansa e a nossa mente antes ocupada pelas fervilhantes ideias e contratos de trabalho ou outros se dirige para o nosso eu e nos leva a encarar com olhos de investigador o que foi a nossa vida. Ou então descobrimos isso num aniversário, naquele aniversário em que olhamos para o numero e pensamos, como pode ser?
Depois há a passagem do ano em que sentimos que a euforia se foi, não por falta de objectivos, pois perdê-los é morrer, mas sim porque começamos a sentir o peso, um peso...
Claro que há a alegria de termos vivido mais um ano e quem é religioso agradece isso ao Altíssimo, mas já se sobrepõe aquela sensação bem nítida de que passou um ano, tão rápido, tão rápido... que sentimos uma angustia quase doentia e no nosso intimo desejamos que o tempo, pare.Pare aqui ou que pelo menos reduza essa velocidade cada vez maior da passagem veloz dos minutos, das horas, dos dias, dos... anos.
E então recordamos o quão efémera é a nossa vida, o quão rápido é a nossa passagem terrena e aqui recordamos também os que se foram, os nossos entes queridos, os amigos, os grandes homens e mulheres que tivemos de referencia ou foram referenciados na nossa vida, todos ou quase todos se foram e então aí sentimos a verdadeira solidão e... medo.
O nosso tempo foi-se. Agora é tempo dos mais novos. É tempo de olharmos com outros olhos e darmos-lhes o direito à sua vida.
É tempo de afirmação, de consolidação e de amor. É tempo de nos prepararmos.
Que mais um ano venha e que o possamos percorrer calmamente, sem muitos percalços e com um sorriso de esperança nos lábios.Mas, oh Deus, este ano passou tão rápido!...

Recife 29.Dez.2006

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