30/09/2007

O AMOR?

O AMOR?
Victor Jerónimo

O amor? Ai o amor! Coitado do amor!
Como palavra tem sido usado para todas as crenças, invejas e até maldades, mas raramente a sua essência é usada no que a palavra tem em si, O AMOR.
Sinto-me desiludido e frustrado por ler e ouvir tantos a falarem do AMOR, multidões a apregoarem O AMOR e tão poucos a mostrarem O AMOR.
Mostrarem? Bem, na verdade o amor não se mostra, pratica-se. O verdadeiro amor é humilde, envergonhado e só se mostra quando vemos o bem causado por ele e nunca quando alguém nos vem gritar que nos ama.
Amar é uma sublime doação ao nosso próximo, é saber dar sem a espera do receber é sublimar-nos perante o próximo de maneira a que este entenda que é amado verdadeiramente sem ser necessário dizermos que o amamos.
Vejamos quantos no mundo falam em amor e vejamos quantos verdadeiramente amam...
Ver? É muito difícil ver o amor principalmente se ele não existir no nosso coração. Por isso todos falam em amor mas são cegos a este. Falam porque ouvem falar, falam porque sabem assim chegar mais próximo do coração da pessoa, falam para enganar.
Utilizam a palavra AMOR sem nunca o terem sentido em seus corações e muitos pensam que o sentem, mas verdadeiramente nunca o conheceram.
Amar significa doar, darmos inclusivamente a vida pelo nosso semelhante.
E não sorria ao ler-me porque se o faz, você realmente não ama.
Quantos pais deram a vida pelos filhos e quantos filhos deram a vida pelos pais, mas e aqueles que nem sequer conhecem o semelhante que salvaram e morreram na luta e salvamento deste?E escrevendo sobre o amor entre dois seres, o amor que nos leva a constituir família, o amor com que vivemos para sempre até que a morte nos separe?
Ah, como esse amor existe cada vez menos e como cada vez há mais interesses obscuros numa relação onde falam em amor e este não existe nem nunca existirá, pois que o segredo está na grande e sublime AMIZADE.
Muitos deram a vida por nós, mas tão poucos souberam compreender.
Seria bom que todos tentássemos compreender o amor, seria bom e saudável para nós mesmos, seria bom que nos amassemos para entendermos o verdadeiro amor e depois o soubéssemos compartilhar.
Por favor, não me venha falar de amor, quando eu observo que a sua vida é de ódio.
Não seja mentiroso, ame-se primeiro, mostre por actos e não palavra o quanto ama e depois então falaremos de amor.
Recife, 30.Set.2007

25/09/2007

O DIREITO À LIVRE EXPRESSÃO

O DIREITO À LIVRE EXPRESSÃO
Victor Jerónimo


Quem tem o poder de decisão ou comando peca muitas vezes por uso ditatorial não respeitando o livre arbítrio de cada um e a liberdade de ideias ou dogmas.
É comum em democracia protestarmos quando um dirigente ou governante usa do seu poder "para calar" um determinado jornalista ou mesmo outro político, mas no nosso dia-a-dia
usamos nós mesmos esse poder, se o tivermos, para calar uma determinada pessoa.
É óbvio que nada nos obriga a ouvir ou ler a quem não queremos e aqui entra a nossa liberdade de decisão mas não podemos calar quem numa comunidade usa essa expressão livre consagrada nas mais elementares constituições democráticas.Podemos impedir o acesso a determinada pessoa à nossa casa ou causa, porém não podemos calar quem o divulga ou nele fala.É esta a liberdade de cada um e da mais elementar justiça. Não podemos impor os nossos ideais porém podemo-nos recusar a aceitar os ideais de outros e isto numa sã confraternização entre pessoas dos mesmos objectivos ou não, sejam eles culturais ou políticos.
É necessário ter mito cuidado e ser muito objectivo por quem detém poderes ou governa causas. Estas minhas considerações baseiam-se dentro da liberdade de expressão, porém isso não é causa para que se aceite quem a use para usar palavreado calão ou de baixo teor linguístico, isto principalmente em locais culturais e onde cada um tem o poder da palavra e a sabe usar.
Nada nem ninguém nos pode obrigar a conviver com quem não gostamos e se nos sentimos mal num agrupamento de pessoas ou clube, podemo-nos sempre afastar para não conviver com esse "douto ser" que nos causa repulsa, porém se detemos o poder de decisão podemos impedir o seu acesso à causa.
Não podemos mesmo é cortar a voz a quem dele fala ou escreve pois aqui estaremos a usar poderes ditatoriais incompatíveis com uma democracia que se deseja sã.
Grupos, comunidades, clubes devem assim agir mas resguardando-se no dever e direito de partilhar as suas ideias e ideais comunicando o seu desagrado sobre alguém ou alguma causa que não partilha pois o direito e a expressão é livre para todos.
É certo que a ninguém é obrigatória a presença ou o compartilhamento de ideais que não são os seus mas também é certo que o uso da palavra falada e escrita é um bem maior ao qual temos direito.
E sobretudo não devemos colocar discussões privadas em causa no diálogo acerca de alguém de quem não gostamos.
Os nossos pares não têm que suportar, nem têm que aceitar o que é do nosso foro intimo e particular mesmo que isso nos cause engulhos, é nosso dever nunca colocar na praça pública o que é de foro privado.
É certo que se uma das partes o colocar a outra terá que se defender ou acusar publicamente, mas isso será entrar em dogmas que geralmente não levam a alguma conclusão e que só
deveriam na maioria das vezes e se por grande ofensa serem levadas a Tribunal.
São princípios elementares que nos governam e que a cada dia são mais esquecidos por nós, levando a que a partilha de causas que poderiam ser saudáveis se transformem muitas vezes em guerras sem sentido e onde na maioria das vezes os ditadores ganham.
Depois serão os anos de ignorância e de terror misturados com a proibição da livre expressão que poderiam ter sido evitados por esses mesmos "democratas" que não souberam ser cautelosos.Sei bem o quanto esta questão é controversa e o que aqui expus são apenas pensamentos e ideias de um pequeno escriba.
Que esta pequena leitura o ajude em algo ou causas bem mais positivas da sua vida.
Sejamos democratas com direito à liberdade de expressão, mas saibamos usar essa liberdade para não cairmos nas malhas da ditadura.

25.Set.2007

12/09/2007

VIDAS

VIDAS
(Cadernos Impolutos)
Victor Jerónimo

Formando o caracter nas horas mortas constrangidas do tempo, aquele imberbe garoto pulsante de vida corria através das vielas nuas e escusas procurando alimento para os seus.
A vida nunca lhe sorriu e o pouco tempo nesta vida já lhe havia ensinado que o mundo era cruel e fantamasgórico de caracteres e solidariedades.
O nascer naquele casebre imundo e onde os ratos eram a sua companhia, moldou-lhe a preparação para a vida a que dificilmente iria construir na perfeição da honradez.
Os seus brinquedos eram latas ferrujentas que o transportavam em sonhos próprios de criança e o levavam a mundos imaginários ora de dor ora de esperança, ora negro, ora azul punjente de um céu caiado de matizes.
A fome negra que muitas vezes lhe corroia as entranhas ía-o preparando para a vida dura e carregada de dissabores, mas ao mesmo tempo inculcava-lhe outros valores desconhecidos.
Aceitava tudo com um dom e maestria coisa ausente no mundo que o rodeava e os seus pensamentos vagueavam muitas vezes para flutuações de belos sonhos que o ajudavam a suportar a miséria em que vivia.
Tinha um sorriso enigmático mesmo nas piores situações o que era motivo de admiração na sua família e amigos que o chamavam "cabeça no ar" na falta de outras explicações para este seu estado de alma.
Prazenteiro ele evoluía muitas vezes para estados de alma próximos da plenitude e desejos especiais em encontros sublimes de espírito, num amor transcendente e evolutivo na escala espiritual.
Nestes estados a fome era a sua companheira e a solidão, a prazenteria da sua pequena vida.
Todo o mundo ao seu redor era inexistente e o recolhimento em si mesmo levava-o a estados próximos do extase.
Grande de espírito, não dava valor às carnes e o seu aspecto franzino era tema de dó mesmo entre os miseráveis que o rodeavam.
Porém seus olhos brilhavam, com aquele brilho especial, próprio das almas que vivem em paz consigo mesmas e encantava aos que não entendiam esse brilho.
Ficavam fascinados por eles e por isso muitas vezes nem reparavam a miséria carnal que grassava naquele corpo miserável abandonado e esquecido.
Quando corria nas vielas, roubando aqui e ali a alimentação necessária para o seu corpo franzino e para os seus, o espírito desprendia-se dele entregando-o aos males do mundo e fazendo-o olhar então a realidade que o cercava, tornando-o então e aos poucos violento na procura de bens essenciais à sua sobrevivência carnal.
Nestes estágios da vida o menino franzino tornava-se em menino louco e de forças sobrenaturais que derrubavam tudo o que se interpusesse entre ele e a procura da sua sobrevivência.
A falta de apoio moral e os ensinamentos dos que o rodeavam contribuíam para que neste estagio a sua sobrevivência aflorasse e o levava a cometimentos inglórios e crueis no mundo cruel do despotismo e da luta pela vida.
No roubo não se importava em tirar a vida alheia e tudo levava de rompante, como tudo fosse só seu e a propriedade alheia lhe pertencesse em pleno direito.
Porém quando se recolhia ao seu mundo a graça espiritual voltava e os seus olhos voltavam a brilhar nas contemplações.
É assim que hoje esse menino já homem vive actualmente num cubículo de quatro metros quadrados, na contemplação espiritual que o ajuda a esquecer os crimes horrendos que sua carne cometeu no mundo dos homens.
E assim ficará por toda a sua vida levando a que os outros seres que o rodeiam tenham por si um respeito ou medo próprios daqueles que sabem que sua liberdade terminou e agora há que espiar os pecados cometidos em liberdade.

Recife, 23.Ago.2007

SOMOS SOBREVIVENTES

SOMOS SOBREVIVENTES
Victor Jerónimo

Quando tento olhar para o passado e procuro o sentir do viver a vida dos meus antepassados, quando leio a História e vejo tantos horrores, tantas desgraças, tantos ódios tantas maldades, eu sinto-me um sobrevivente.
Tentar imaginar a vida dos nossos antepassados a partir dos nossos tetravós e recuando cada e cada vez mais no tempo fico a pensar como teriam sido as suas vidas.
Para eu estar aqui neste momento a escrever e a tentar idealizar o que foi, como terá sido?
Eu sinto-me tão pequeno, tão humilde, mas ao mesmo tempo sinto-me um vitorioso, que herdou o sangue, as células, a hereditariedade dos vencedores.
Todos eles foram vencedores sem excepção e todos nós que estamos aqui hoje, somos a herança, somos os sobreviventes.
Basta lermos artigos que nos contam como foi na antiguidade e se quisermos aprofundar, embrenhemo-nos na história, na arqueologia e em todas as matérias que nos levam cada vez mais além.
É cada vez mais notório como as pessoas tentam saber de onde vieram, quem foi a sua ascendência, mas isso só nos leva até uma determinada escala da evolução.
Tentemos recuar mais e mais e ficamos quase em letargia, ao tentar imaginar as cenas que se desenvolviam no quotidiano dos nossos antepassados.
E imagino que todos eles terão morto o seu semelhante para poderem sobreviver ou quem sabe outras causas.
Foi a esperteza, a vilania, a valentia que nos trouxe aqui.
Somos herdeiros de todos os males que assolaram a humanidade ao longo da sua vida.
Mortes, assassinatos, doenças uma luta constante na procura do sobreviver.
Quantos filhos morreram e quantos pais pereceram para que chegassemos aqui.
Temos uma pesada herança que devemos preservar, que nos foi legada por eles e é no conhecimento de causa e no sabermos que devemos partir à procura do bem.
Nada está perdido e tudo está achado.
Tudo? Nem tudo, Creio que muito há ainda a ser descoberto.
Transportamos dentro de nós e em hereditariedade as doenças, a maldade, mas também a bondade, a experiência, tudo pronto a despontar assim estejam formadas as ocasiões para que despolete essa luz.
Somos por isso e actualmente responsáveis pelo que fizermos e pelo que desejamos transmitir às gerações futuras, não só a nível físico mas sobretudo no espiritual, pois tudo fica gravado em nós e somos nós a transmitir aos nossos filhos.

Recife, 16.Jul.2007