07/07/2007

Semana Mundial do Meio Ambiente (2007) e NO RESCALDO DA SEMANA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE (2007)

Semana Mundial do Meio Ambiente (2007)
Victor Jerónimo(*)
Mais uma vez o homem se prepara para nos alertar que estamos doentes de tanto fumo e outros vis dejectos e que o nosso berço vai ficar moribundo.
Mais um ano de avisos e exigências, gritos de declamantes revoltados, jornais escrevendo revoltantes noticias, ambientalistas mostrando que só eles nos podem salvar.
Tudo uma panacéia para curar todos os males, como se fosse possível passar um esponja na sujidade e livrar-nos do juízo que se avizinha final.
A evolução do homem e a grande revolução industrial no século dezoito não foram planeadas para proteger a Terra, aliás pensava-se que vivíamos numa fonte inesgotável de recursos.
Tudo era fácil desde que o homem deixou de ter que lutar pela sua subsistência com a produção artesanal e se integrou nas empresas ou fabricas do senhor que possuía a maquina milagrosa da produção.
As Revoluções Burguesas são as responsáveis da passagem do capitalismo comercial a capitalismo industrial.
Os grandes melhoramentos introduzidos por James Watt no aperfeiçoamento das maquinas a vapor, veio acelarar de forma irreversível a revolução industrial. A utilização indiscriminada do carvão foi o começo da poluição da Terra em alta escala.
O alastramento e o desenvolvimento a todos os continentes provocou o começo do aquecimento global mais tarde agravado de forma irreversível pelo uso indiscriminado do petróleo.
Os derivados do petróleo, principalmente os obtidos pela destilação atmosférica veio criar o ingrediente fatal para o aquecimento global; gasolina, oleo diesel, querosene, óleo combustível, lubrificantes, nafta, gasóleo, dissolventes, parafinas, alcatrão (asfalto) coque, xisto, fertilizantes e o famigerado plástico um horror de produtos altamente poluentes usados em queima, em gases poluidores ou dissolvidos na terra e nas águas.
Grandes meios de transporte chamados petroleiros que têm destruído todo os grandes ecossistemas ainda virgens da poluição, nos grandes desastres em que estes se partem em duas, três, ou mais partes derramando todo o inferno destruidor que trazem alojado nas suas entranhas.
Poluição dos rios até em áreas remotas como o Amazonas, alta degradação da terra de cultivo onde o uso do DDT foi tão grave que este foi proibido, o corte das grandes florestas.
Aletrina, Tetrametrina, Permetrina, Peroxido de Hidrogenio, Alcalinizantes, Sulfonato de Sódio, Solventes Minerais e todo um conjunto de nomes estranhos que nem temos a preocupação de ler, mas que entram em nossas casas como desinfectantes, inecticidas, lixívias, desodorizantes e muitos mais tudo produtos que causam hipersensibilidade cada vez maior ao homem no lidar o dia-a-dia com estes e que por força da sua fabricação já causou um dano trilhões de vezes maior ao nosso planeta.
Todos estes produtos e muitos mais estão tão inseridos na nossa vida e têm nos dados grandes níveis de conforto que os nossos ancestrais nunca tiveram, que difícil vai ser tirá-los do nosso quotidiano.
Todos sabemos que se tal acontecesse seria o caos final.
E os dirigentes de todas as nações têm melhor que nós a percepção dura do que se passa.
Os tratados firmados entre todos o países como o Tratado de Kyoto para a redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa vem-nos mostrar que infelizmente os dirigentes de dois dos maiores países industrializados, USA e Austrália, não aderiram alegando problemas económicos.Como é falsa esta alegação. E os outros países que aderiram não terão o mesmo problema económico?
A politização do estado de saúde do nosso planeta vem mais uma vez mostrar-nos a falsidade, que sempre regeu o homem.
Há que criar comissões ou com qualquer outra designação, mas organizações que tenham o poder de controlar e criar medidas severas para com os países poluidores.
Há que encontrar substitutos não poluentes como por exemplo o hidrogeneo que na sua combustão só emite água e calor.
O homem tem essa grande capacidade de inovar e realmente temos assistido a grandes descobertas para esse melhoramento.
Simplesmente o grande capital não permite a continuidade desses objectivos e só os irá apoiar quando encontrarem neles mais fontes inesgotáveis de receitas que possam substituir as que perderam como o esgotamento ou proibição da emissão de gases poluentes.
Há que começar já e não esperar pelas grandes catástrofes que se avizinham e que serão irreversíveis.
O que está em causa é a sobrevivência da nossa espécie, é a sobrevivência de tudo o que tem vida no nosso amado planeta.
Mas se continuarmos assim este nosso planeta irá desaparecer, irá matar todo o ser vivente existente.Ele continuará até ao fim dos dias, mas será mais um planeta deserto no nosso sistema solar.
(*) Victor Jerónimo Membro 550 da APP - Associação Portuguesa de Poetas; e do GPL - Gabinete Português de Leitura de Pernambuco, Recife/Brasil.
Vice-Presidente da AVSPE - Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores.Esta crónica foi escrita especialmente para o Evento da Semana do Meio Ambiente realizada pela AVSPE.
(http://www.avspe.eti.br/eventos/ambiente/semanadomeioambiente.exe )


Publicado no Jornal Mundo Lusíada


***


NO RESCALDO DA SEMANA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE (2007)
Victor Jerónimo
Termina hoje oficialmente a Semana Mundial do Meio Ambiente. Por todo o mundo, houve palestras, discussões, manifestações, alertas, plantio de arvores, mostras de arvores raras, tudo como forma de consciencializar as pessoas e mostrar-lhes o que já é óbvio (só não vê quem não quer) de que o nosso planeta está uma autentica lixeira.
E se você não acredita e é como S. Tomé, ver para crer, experimente ir para lugares inóspitos, daqueles onde só se chega de 4x4 e depois mais uma grande caminhada e garanto-lhe que alguma garrafinha ou saquinho de plástico você irá encontrar.
Embora tudo seja discurso de circunstância e para a maioria dos políticos seja mais um item a cumprir na sua agenda, os gritos de alerta, manifestações, etc, etc, já são passos importantes para a consciencialização e há que realmente passar da palavra à pratica, começando já pelas escolas com disciplinas sobre o meio ambiente.Entretanto os G8 em Heiligendamm, Alemanha, fizeram um acordo para implementar cortes "substanciais" na emissão de gases do efeito estufa, conforme afirmou a chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel."Em termos de alvos, concordamos com uma linguagem clara...que reconhece que os aumentos nas emissões de CO2 devem primeiro ser interrompidos e depois seguidos por reduções substanciais", disse Merkel a repórteres durante a reunião no balneário de Heiligendamm.
Segundo ela, os países do G8 concordaram em "considerar" a meta dela de um corte de 50 por cento nas emissões até 2050. Mas os líderes não parecem ter se comprometido a metas específicas.
Os EUA têm resistindo às tentativas de Merkel - que comandou a cúpula - de fixar uma meta específica sobre os cortes necessários aos esforços para combater as perigosas alterações no clima.Mas o acordo, todavia, não estabelece metas especificas para a redução mas sim um principio não vinculativo, defendido pela União Europeia, Canadá e Japão, de que essa redução seja de 50 por cento até 2050.E os EUA não se vincularam totalmente entrando no acordo mas com reservas.
Um dos países mais poluidores do nosso planeta e que tem sofrido com as forças desenfreadas da natureza como os furacões entraram no acordo mas com reservas e propondo um novo ciclo de negociações sobre o clima.
Mas talvez eles tenham razão. A tentativa de construírem um escudo de defesa antimíssil que teria parte de seus componentes instalados no Leste Europeu vem nos mostrar que o nosso planeta pode virar em um segundo um planeta mais brilhante que mil sois.Recife, 08.Jun.2007

NASCI TÃO LONGE


(foto de Hernán Zin)


NASCI TÃO LONGE
por Victor Jerónimo

E tu aí tão perto de todas as guerras, fazes-me sentir culpado das ameaças que não vivi.
É certo que a minha geração também sofreu na carne e no espírito os horrores das violações, das bombas, das minas, das balas perdidas na defesa de terras longínquas que diziam ser nossas e apenas porque tivemos o mérito de as descobrir ou terá sido achar? E tu aí tão perto de todas as guerras, fazes-me sentir culpado das ameaças que não vivi, dos sofrimentos sem fim, das bombas enviadas pelos céus de nações que se dizem amigas e que apenas procuram sugar o ouro da tua terra. Homens-bomba a que lhes foi ensinado que o paraíso espera recheado de coisas belas por eles. Até na morte há a ganância de conquistar esse paraíso.
O uso indiscriminado das religiões onde nem uma se salva na procura da Paz terrena. O inculcar do sofrimento ao homem dizendo, pregando que isso é natural como se houvesse prazer no sofrimento.
A educação prenhe de maldade que incute a um pequeno ser o ódio e o transforma numa maquina de matar, seja para roubar ou para salvação da alma, seja para matar a fome ou pelo simples prazer de matar. E tu aí tão perto de todas as guerras, fazes-me sentir culpado das ameaças que não vivi, da fome que não senti.
E com isso sinto-me um homem vil, déspota, com a desgraça lambendo-me as raízes do pensamento, porque não lutei, nem com as palavras. Cobarde acobertei-me nas asas do corvo e calado segui todos estes anos mirando os horrores à minha volta. Não gritei, não fiz ouvir a minha voz, não soube dizer Não, não soube dizer BASTA.
E tu aí tão perto de todas as guerras com o teu corpo ardendo, com tua alma descendo aos infernos, não sabendo o porquê do que te fazem, já não acreditando no que te dizem. E tu aí sem saberes o porquê terminam com tua vida no fogo do inferno.
E eu que nasci tão longe miro em uma foto o teu ultimo sopro de vida. Com pena, com tristeza, talvez com um pouco de horror.
Mas que fazer? eu que nasci tão longe...

Victor Jerónimo



Letras sem nexo e num amplexo

Letras sem nexo e num amplexo
Victor Jerónimo
"Eu gosto tanto de si", "tenho-lhe tanta amizade" e outros disparates que costumamos ler nesta net.
Nada há de mais perigoso que as relações de amizade na net.
Andamos, vegetamos por aqui, queimando tempo e saúde numa ilusão que só termina com a morte.
A dedicação de uns é a paranóia destrutiva de outros. Quem aqui anda anos e anos seguidos vai conhecendo o género humano, acreditem bem melhor no que no real.
Ponhamo-nos como integrantes activos de uma comunidade mas também como observadores. É essencial este observador, para não cairmos no jogo e no logro das seduções e leremos de pessoas que nunca sequer falaram conosco estas ou outras frases parecidas "Eu gosto tanto de si", "tenho-lhe tanta amizade". Se a nossa disposição estiver para o carente aceitamos imediatamente esta afirmação e tentamos mostrar que ainda gostamos mais. Mas se estivermos ali como observadores imediatamente nos aflorará um sorriso de pena acompanhado do inverso, do mal estar, quer dizer, não sabemos se havemos de rir ou chorar.
Esta net está povoada de pessoas carentes, mas também de pessoas maldosas, de vigaristas, de mentirosos e até de assassinos.
Pessoas que inventam situações da sua vida que não têm nada a ver com a realidade, pessoas casadas que se dizem solteiras, operários que se dizem engenheiros, iletrados que se dizem doutores, não esquecendo os ditos jornalistas ou filhos destes que não passam de meros vendedores da banha da cobra.
E ai de quem entrar na net com boas intenções, pois seremos logo crucificados na primeira oportunidade e se nos mostramos bonzinhos ainda podemos levar o rotulo de paneleiro ou outro ainda bem pior.
Há-os por aqui com capa de anjo mas prontos a saltarem e filarem a sua presa na primeira oportunidade e se não o conseguem vai de arranjar uma trama ou tramas para queimar esse individuo.
Depois há que recolher as garras mostrar-se bonzinho e se souber escrever colocar alguns textos a circular sobre problemas psicológicos que atinjam o visado mas sem mostrar que é para ele.
No outro dia vi um paspalho por aí dizendo-se aviador de grandes rotas, que hoje está na América e amanha na China, mas será que o coitado leva o PC quando comanda o avião e está constantemente na net? Coitados dos passageiros ou coitados de nós que acreditamos nele.
E aquele solteirão que é casado há trintas e tantos e cheínho de filhos e netos?
Se andamos tanto tempo aqui como ainda podemos ser enganados assim?
É a nossa disposição o nosso lado bom e carente que nos leva a este desplante muitos deles carnavalescos.
Muita seriedade há nesta net "felizmente" mas que aos poucos e poucos os levam a um afastamento parcial e muitas vezes total. Estes felizmente ou infelizmente vêm a ilusão em que andam e como a maldade e inveja aqui é tanta preferem afastar-se até porque o andar aqui periga e muito a saúde.
São as inactividades totais de longas horas onde o que apenas mexe são as mãos e os olhos, é a leitura de tanto disparate e isto para não falar daqueles que algo inventam para destroçar as boas almas é o sentirmo-nos invejados.
Agora... fico-me por aqui.
11.mai.2007

HIPOCRISIA?

HIPOCRISIA?
Victor Jerónimo
Em nome dos valores (?) da má educação, estamos actualmente a assistir a cenas deploráveis com o uso de palavras de má índole.
E por favor não proteste, porque corre o risco de ser chamado, hipócrita, ditador, censurador, etc.
Bem sei que, a forma como o mundo se apresenta, a vontade é imensa de dar o nome aos bois, mas por favor, tenhamos maneiras, pois a educação continua a ser o maior valor que temos para transmitir aos nossos descendentes. Será isto hipocrisia?
Em nome da arte maior das letras, as pessoas estão a permitir-se usar o calão e o mais grave, como acontece em todos os males deste mundo, as pessoas deixam-se arrastar ou ficam fechadas nos seus casulos com medo de protestar.
Se ao poeta tudo é permitido na arte de poetar, não quer dizer que numa mensagem ele faça uso dessa liberdade. É como um pintor pintar nus, mas não é porque os pinta que ele vai aparecer nu em publico.
Existe uma grande diferença na arte nobre de escrever e na de uma simples mensagem ou artigo, em que as expressões devem ser comedidas e não partirmos para um rol de ofensas a maioria das vezes sem necessidade.
E não estou a ser retrogrado ou de fora da época.
Em tudo há ocasião e momento, mas não usemos essas ocasiões para ofendermos a quem não o devemos fazer.
Mais grave ainda é quando essas ofensas partem de pessoas que têm uma responsabilidade no meio social onde estão inseridas.
As pessoas chegaram ao ponto de já não se contentarem com ofensas pessoais e partem para a agressão através de palavras ao seu próprio país.
E vejamos que quem escreve um protesto não necessita de usar palavras de má educação, pois ao fazer isto está afinal a ser igual ao objecto do seu protesto, está a descer ao mesmo nível dele.
Vejamos que a palavra escrita fere mil vezes mais que a palavra dita. Estamos em um meio literário e onde a ofensa não é necessária. Aliás quando ofendemos com palavras de má índole, estamos a usar palavras que significam muitos males e se rodearmos essas palavras e as transformarmos noutras estaremos a contribuir para o nosso próprio desenvolvimento pessoal.
É muito fácil usar uma palavra ofensiva, o difícil é darmos uma tradução a essa palavra.
Vamos pois contribuir para o melhorar da comunicação entre os nossos semelhantes.
10.Fev.2007

A MALDADE OU O PRINCIPIO DO FIM?

A MALDADE OU O PRINCIPIO DO FIM?
Mensagem de Natal 2006
Victor Jerónimo

Este ano de 2006 irá ficar marcado como o apogeu da maldade ou o principio do fim?.Não o fim do mundo-globo, mas o fim do mundo que conhecemos e se transformou no apogeu da maldicência humana traduzida em palavras ou gestos.
O mal é como um rastilho e quem o começa sabe bem que este se irá propagar rapidamente arrastando consigo outros pequenos rastilhos até à explosão final.Se o bem se propagasse com a mesma intensidade teríamos um mundo de Paz, mas tal não acontece.
O bem demora a construir e faz o homem desconfiar antes de avançar nesta senda, o bem torna as pessoas desconfiadas, antes deste se mostrar em toda a sua pujança.
Isto é o fruto de estarmos tão habituados ao mal que quando nos acenam com o bem, desconfiamos.
As pessoas de boa vontade são tão assediadas pelo mal que terminam fechando-se em casulos para se defenderem. A maldade consegue retirar o poder da meditação, da verdade e da isenção.As maldades conseguem tirar-nos a capacidade de analisarmos com isenção o que se passa à nossa volta e consequentemente com o nosso semelhante. Esta é terreno fértil para muitas vezes defendermos o mal, na crença do bem, sem analisarmos profundamente a parte acusada levando-nos a atitudes impensadas.
A maldade disfarça-se e se mostra nossa amiga para no tempo certo nos desferir o golpe e açoitar-nos com o descalabro próprio dos rancores e invejas há muito reprimidos nas suas almas sórdidas.
Todos somos responsáveis pelo que fazemos e mais cedo ou mais tarde pagamos no dobro o que fizemos. Pudesse o homem ter o bastão da verdade com certeza a maldade seria dominada.
Mas infelizmente vem do fim dos tempos a pendência quase total da humanidade para o mal e agora estamos pagando bem caro os erros que cometemos.
"Filho contra pai, pai contra filho, irmão contra irmão" assim foi escrito e assim está a acontecer.
Tudo vem do inicio dos tempos e na historia de Caim e Abel foi magnificamente descrito o que sempre aconteceu mas que agora atingiu proporções catastróficas.
Crises de terror, violência, depressão tudo isso está a voltar e já nem as religiões conseguem apaziguar os corações, pois também elas foram acometidas do mesmo mal com a agravante de aos poucos estarem a infundir nas pessoas o terror, num retorno aos séculos passados, isto como se não bastasse todo o mal que nos aflige e preocupa.
Poucas são as pessoas sensatas que se apercebem e se analisam tentando entender o que realmente de mau está a acontecer. Serão estas pessoas que talvez vão conseguir parar ou diminuir toda esta maldade.
Mas cuidado com os falsos profetas pois no ordem da Criação só mesmo os limpos conseguirão entrar.
Resta-nos a nós simples mortais esperar e meditar sem cessar.
Que as tramas ditas espirituais ou de religião não impeçam essas pessoas de conquistar o bem.
Lembremo-nos que temos uma geração herdeira e que são eles o reflexo do nosso bem ou mal amanhã. Há que preparar-lhes o caminho para o bem e ensinar-lhes como se combate o mal.
E que este combater não seja de armas mas sim de ações e por isso há o dever de cada um de nós o começar na sua própria casa.
Termino com duas grandes citações:
“Quando as águas da enchente derrubam as casas, e o rio transborda arrastando tudo, quer dizer que há muitos dias começou a chover na serra, ainda que não nos déssemos conta”. Eraclio Zepeda
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."(Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)
Meditem e orem sem cessar neste Natal e que o ano de 2007 possa ser o começo do ano da verdade.
Victor Jerónimo
20.Dez.2006

RECORDAÇÕES

Comboio com máquina a vapor


Ponte da Foz do Cerejo da Linha da Beira Baixa no vale do rio Tejo

RECORDAÇÕES
Victor Jerónimo

Aqueles três meses de ferias escolares eram sempre ansiados pela pequenada do meu tempo pelos chamados Lisboetas e onde muitos de nós íamos passar férias com os nossos avós noutra dimensão e onde a liberdade era quase uma constante.
Tudo começava com os meus pais fazendo a malas cheias de roupas e cestos vazios a devolver aos meus avós que na retorna viriam carregados de produtos cultivados na santa terra, ou de enchidos feitos por eles que tão bem sabiam semear ou criar animais.
Em dia aprazado lá íamos carregados de malas e cestos apanhar o autocarro da carreira 9 em direcção à estação de Santa Apolónia.
Aqui havia as bichas intermináveis nas bilheteiras com sacos, malas, cestos, garrafões tudo à mistura propriedade dos viajantes que ansiavam por serem os primeiros a entrarem no comboio e apanharem o lugar que todos julgavam mais confortável na sua imaginação.
Quando chegava a nossa vez o pai falava pro bilheteiro: "três de 3ª classe para o Fundão". E lá abalávamos com as pesadas malas quase em correria para a gare para apanharmos o comboio com duas horas de antecedência da hora da partida, este já com muita gente ocupando os seus melhores lugares, que são aqueles no meio da carruagem e onde o ponto de gravidade é menor e não balança tanto.
As carruagens eram de madeira com bancos corridos e portas nas extremidades, por fora havia um degrau a todo o comprimento da carruagem por onde o revisor passava de compartimento em compartimento para picar os bilhetes.
Cada carruagem tinha uma placa de madeira que mencionava o destino, pois quando chegávamos ao Entroncamento havia carruagens que se iriam separar, umas com destino à Guarda, outras para o Porto. Era a forma de economizar na época, no aproveitamento de um único comboio que a meio da viagem se partia em vários para outros destinos.
Ocupávamos então os lugares que o meu pai achava serem os melhores. A mãe tirava uma manta da mala para colocar no banco e tornar mais confortável a viagem de nove horas em bancos de madeira.
O pai arrumava as malas e os cestos que ocupavam a bagageira toda acima das nossas cabeças e quem viesse depois que se amanhasse.
Ali ficávamos esperando pela 23 horas, hora da partida, que podia não ser, do comboio que iria percorrer ronceiramente quase 300 km.
Entretanto o pai ficava à porta esperando encontrar alguém conhecido que fosse para o nosso compartimento e assim tornasse a viagem mais amena através de conversas e recordações.
Então e com sorte o comboio partia no horário certo, apitando e muito lentamente aos poucos ía ganhando velocidade.
Era então uma alegria sentir que finalmente iria para as ferias tão esperadas em casa dos meus avós.
O comboio parava em toda as estações e apeadeiros, saíam volumes, entravam volumes, numa azafama constante de quem viaja “quase com a casa às costas” pois havia os que queriam mostrar que não eram tão pobres assim.
Quando o comboio chegava ao Entroncamento ficava parado uma hora nessa estação para mudar de maquina eléctrica para maquina a carvão e conforme o comprimento deste levava uma maquina à frente e outra atrás pois a partir desta estação iríamos percorrer muitas subidas.
Finalmente partíamos no meio de muita fumarada, entravamos na linha de sentido único que nos levaria ao Fundão. Aqui, mais paragens intermináveis em estações para aguardar o comboio que vinha em sentido inverso e muitas vezes sem cumprir o horário ou então esperar um senhor importante que se tinha atrasado.
Viajar nesta linha da Beira Baixa é contemplar uma bela paisagem que serpenteia pelas margens do Rio Tejo acima bordejando as suas águas.
Num comboio antigo com luz quase inexistente e em noite de luar a minha atenção prendia-se nos reflexos da lua nas suas águas que distraíam a minha mente ansiosa em chegar ao destino.
As conversas no compartimento diminuíam vencidas pelo cansaço e sono que a noite nos impunha e o comboio lá seguia ronceiro parando nas intermináveis estações e apeadeiros.
Lá para as tantas a porta do compartimento era aberta pelo revisor que pedia os nossos bilhetes, examinava-os cuidadosamente, não fossem estes falsificados, picava-os e devolvia-nos muitas vezes sem um boa noite sequer. Lembro-me de um revisor o Sr. Paginha um senhor careca e muito simpático que quando fazia essa viagem demorava mais tempo a falar com o meu pai e em geral com os restantes passageiros. Homem evangélico preocupava-se em transmitir-nos palavras de amor e fé.
Em Vila Velha de Rodão o comboio abandonava definitivamente o Tejo para começar a sua escalada em direção a Castelo Branco. O dia já começava a despontar e os olhos a clarear para mais um dia. O dia tão esperado da chegada.
Até Castelo Branco muitas vezes o comboio não conseguia vencer as subidas e lá ficávamos parados à espera que outra maquina chegasse e nos empurrasse em direção ao nosso destino.
Quando isso acontecia era o aproveitar para sairmos do comboio, esticar as pernas ou colher alguma fruta saborosa à beira da linha.
Finalmente Castelo Branco, capital da Beira Baixa, a partir daqui era o contornar interminável da Serra da Gardunha onde o comboio segue interminavelmente por aldeias e aldeias, até chegar ao Fundão.
Finalmente depois de 12 ou 14 horas, com horários que nunca eram cumpridos, chegávamos ao nosso destino, Fundão, capital da cereja, da Cova da Beira e de um dos vales mais férteis de Portugal, que tem como paisagem ao sul a Serra da Gardunha e ao Norte a Serra da Estrela.
Havíamos chegado e minhas ansiadas ferias estavam a começar.


O GAROTO

O GAROTO
Victor Jerónimo

Era um garoto imberbe que há pouco tinha deixado “os cueiros”. Não sabia nada da vida e muito menos de política, mas aqueles camaradas, eram tudo o que tinha na vida.
Aos poucos, entre o verdadeiro e falso, foram fazendo dele um novo camarada. Verdadeiras sessões políticas até às tantas da manhã, em verdadeiras lavagens ao cérebro, foram fazendo dele um candidato a herói.
Garoto imberbe, tornado membro do partido, na clandestinidade.
Começou a distribuir panfletos pelas caixas do correio dos moradores da cidade. Falava em surdina com outras pessoas, mas sempre de olho bem aberto não fosse algum bufo passar e ouvir.
Mais tarde começou a escrever para o jornal do partido na clandestinidade, artigos políticos, contra o governo. Começou então a ficar na mira da polícia. Um dia prenderam-no.
Torturaram-no pelo sono, pela estátua, pela água, pelos choques elétricos. Mas sua boca permaneceu fechada. Não resistiu.
Garoto imberbe que há pouco tinha deixado “os cueiros”, virou herói e... morreu.
Com direito a notícia no jornal.
Foi encontrado já sem vida, na Rua da Morte o Senhor Fulano de dezenove anos. A polícia pensa que foi assassinado numa rixa de bandos.
Passaram os anos. Hoje o Sr Fulano nem recordado, é; aliás, um amigo que lhe restou recorda-o, mas não o pode provar. As poucas notícias acerca dele, pereceram num incêndio que houve lá no partido.
Os camaradas... esses... hoje, governam o país e não têm tempo para recordações tão singelas.
Coitado, devia ter tido mais cuidado, o garoto.

Lisboa, Dezembro/2003

FANTASIA OU REALIDADE?

FANTASIA OU REALIDADE?
Victor Jerónimo

Deambulando pela primeira vez aos cinquenta e três anos por terras da estranja como residente, tenho observado como o português é tratado pela Mãe-Pátria.
Cinquenta e três anos foi o tempo que vivi em Portugal. Sendo cidadão português nado e criado na capital sempre me senti um previligiado, talvez porque a História de Portugal assim nos ensina desde pequeninos. Fomos donos de um vasto Império multiplicamo-nos pelo mundo, desbravamos o impossível para a época, fomos guerreiros, conquistadores, descobridores.
“Demos novos mundos ao mundo” , alcançamos a glória e a riqueza. Perante um manancial de tantos feitos históricos seria normal que os actuais (presentes e passados) governos portugueses se sacrificassem pelo grande povo que têm.
Mas não, eles atingem aquilo que o povo lhes dá, o poder, depois é vê-los quais andorinhas andarilhas por todo o mundo envaidecidos da sua soberba.
Em todos os países que visitam há portugueses, isto porque não há um cantinho do mundo livre de portugueses, mas estes nunca são honrados nas suas mais pequenas necessidades. Quando o são, são-no não por mérito próprio mas porque a diplomacia assim o aconselha. Tudo isto era-me desconhecido, digamos eu já sabia um pouco por méritos de amigos meus em terras da estranja, mas como todo o português, aconchegado na Mãe-Pátria, pensava haver muito exagero.
Não senhor, não há exagero e agora sei, pois o vejo in loco que esses amigos não me contaram tudo.
Qualquer estrangeiro em Portugal é defendido pelos respectivos países de onde são originários tudo fazem para que esse cidadão seja bem tratado em Portugal, havendo muitas vezes grandes protestos diplomáticos, até por ninharias.
O Português no estrangeiro não, não tem quase apoio nenhum dos nossos queridos Governos e escondendo-se em leis absurdas do país em que estão inseridos tudo fazem para dificultar a vida ao pobre cidadão português.
Não entro em factos tão bem conhecidos de todos e esta crónica não é um protesto, antes sim um lamento de o nosso querido Povo, que luta e trabalha por melhor qualidade de vida, enriquece e faz enriquecer o país onde estão inseridos mas que não consegue ter em Portugal defesa ou ajuda por problemas muitas vezes tão fáceis de resolver e seja tão maltratado pelos nossos Governos.

28.10.2004

DEFICIENTE

DEFICIENTE
Victor Jerónimo
Durante 45 anos usei daqueles óculos com lentes denominadas na gíria popular "fundo de garrafa". A minha alta miopia assim me obrigava a usar estes óculos. Por causa deles fui excluído socialmente em muitos locais, tendo mesmo dificuldade em ter um emprego ou mesmo um amigo. Aliás como muitos de nós somos alcunhados a minha alcunha era o "vidrinhos".Muitos dos chamados amigos eram-no por pena do coitadinho que usava aqueles óculos.Aos 45 anos e depois de três operações adquiri o estatuto de bonito e fui aos poucos sendo integrado socialmente.Hoje uso óculos normais ou por opção não os uso mesmo.Em virtude desta exclusão fui reparando no meu semelhante e nos que como eu estavam na mesma situação ou em situações deveras piores.Por um acaso do destino fiz amizade com o "José Manuel". Ele sofria de paralisia infantil nos membros inferiores e andava de muletas. Com ele e através dele aprendi muito sobre essa exclusão. Tínhamos então 15 anos e a sua postura perante a vida ensinou-me que eu não era um coitadinho e que podia lutar e vencer.Muitos anos mais tarde dei apoio em uma associação para crianças carenciadas e abandonadas. Muitas destas crianças eram deficientes e pude apreciar o quão de normais e lutadoras são essas crianças. Elas não tinham pai nem mãe mas perante a sociedade que as rodeava elas mostravam na sua inocência, a força e saber de verdadeiros lutadores.Actualmente muito tenho lido e observado sobre os protestos de pessoas nobres e que lutam pela integração na sociedade dessas crianças.Em boa verdade as pessoas estão cada vez mais introvertidas, fechando-se nos seus casulos e desaprendendo o bem maior da humanidade, o agir e tomar decisões comunitárias que começam logo no interagir com o vizinho, o amigo, o marido, o companheiro ou os filhos. Cada um de nós perdeu o dialogo construtivo com quem nos cercávamos levando às situações de solidão e carência que cada vez mais aflige cada um de nós.É na união, primeiro em casa, depois em comunidade que começa o desenvolvimento de uma nação e neste caso o desenvolvimento humano do carinho, amizade e de vermos como nossos iguais o deficiente que vive no nosso prédio ou na nossa rua.E esse desenvolvimento tem que começar logo de pequeninos, ensinando às nossas crianças que o deficiente é uma pessoa normal, mas que por força do destino nasceu ou ficou assim assim e como tal ele deve ser tratado não como um atrasado mas sim como alguém de muito valor na nossa sociedade.Se assim começarmos, estaremos a criar bases sólidas para que nas escolas lhes seja dado o devido valor, estaremos a criar bases sólidas para que certos governos se preocupem verdadeiramente com eles fazendo cumprir as leis e não as ter meramente escritas.Somos uma sociedade introvertida, mas queixamo-nos de todos os males que nos afligem, maus governos, maus amigos, maus companheiros, maus vizinhos e não olhamos para nós mesmos.Estamos sempre prontos a apontar defeitos nos outros, esquecendo-nos que nosso maior defeito reside em nós.Temos pena dos deficientes, porém confrontados directamente com eles não os ajudamos ou pior ainda adoptamos um sentimento de vergonha e culpa afastando-nos o mais rapidamente possível dele.Não conseguimos ter uma conversa com eles sem estarmos sempre a olhar para a sua deficiência.Sejamos capazes e humanos e olhemos à nossa volta. Sejamos reais e objectivos e tratemo-los com carinho, compreensão e real valor.
Recife, 05.set.2005

BOM DIA PRIMAVERA/BOM DIA OUTONO

BOM DIA PRIMAVERA/BOM DIA OUTONO
Victor Jerónimo

Como é linda a Primavera. O renascer da vida em todas as suas matizes nos recorda a beleza do viver. Tudo renasce e tudo se transforma numa matiz de cores e efeitos espectaculares à vista e ao espírito e até nas grandes cidades se sente a mudança.
Há os espíritos fechados que não notam essa mudança, é certo, mas sentem-na embora não aceitem os seus efeitos, é assim na vida é assim no renascer.
O Outono nos traz o ocaso da vida, mas quanta beleza existe nesse ocaso. Sim porque no ocaso também existe a beleza.
No envelhecer há as mudanças de cor, o aprender da vida, a sublimação do espírito, que nos vai preparando para o desfecho da mudança e o renascer em outro plano.
Todo o planeta nos transmite estas mensagens de amor e fé embora o ser humano seja cego às transformações. Tem medo de enfrentar o desconhecido e de abandonar as suas conquistas, como que se sentido traído em algo que não pediu.Mas a vida é assim mesmo, um nascer, um viver, um ocaso, um morrer. Uma Primavera, um Verão, um Outono, um Inverno, cada estação com sua beleza, mas as mais belas são a Primavera e o Outono.Conforme o Hemisfério que tenhamos uma boa Primavera e saibamos aproveitar o Outono.

ATÉ QUANDO PORTUGAL

ATÉ QUANDO PORTUGAL
Victor Jerónimo

Até quando continuará a desgraça que continua a grassar no nosso ex-lindo Portugal.
Até quando os homens que escolhemos para governar-nos tomam medidas eficazes para minorar este mal, sim, porque o calor não é desculpa para tudo nem o principal responsável. A maldade de uns quantos, isso sim, aliado ao intenso calor conseguem transformar Portugal no Inferno de Dante.
Até quando nós portugueses, habitantes deste pequeno quadradinho na ponta da Europa teremos a coragem de cuidar da nossa terra, através da vigilância e do cuidar das matas que grassam nas nossas florestas como autentica pólvora à espera que acendam o rastilho?
A riqueza leva ao abandono do que nos é querido, a pobreza da alma apodera-se de todos nós e nos leva à recusa do agir em prol da dignidade e do valor humano.
Se antes fomos grandes descobridores e grandes lutadores, agora há que ser grandes guardadores. Aprender a guardar o que resta da nossa riqueza é dever de cada um de nós, é dever de cada governante, é dever dos orgãos maximos da nossa nação, é um dever que nos assiste por direito baseados no querer e na força de um povo.

06 Agosto 2005