28/02/2008

PARÂMETROS LITERÁRIOS

PARÂMETROS LITERÁRIOS
Daniel Cristal

Chamar a atenção, não ofende; desenvolver teoria, não agride; sugerir não é insulto nenhum. Só será se o leitor, desejoso por polemizar, enfiar algum barrete pelo desleixo a que se vote, ou pela lassidão a que não reage. Porque pode retorquir na forma da polémica pacífica, mas sempre numa réplica que o dignifique aos olhos dos leitores em geral. Pois, mandar palpites, só o deve fazer nos jogos da sorte e do azar; do azar, sobretudo. Com muitas probabilidades de perder este jogo que emparceiramos, este que exige precisões de conceitos teóricos apurados, fundamentações, silogismos, estrutura crítica. Pode refutar, naturalmente, não esquecendo que, dos dados mal interpretados e mal desenvolvidos, serão espelhados na sua figura, e reverterão a seu crédito ou a seu débito, como se fossem estas as contas concretas, numa abstracção estética, que deve saldar no juízo literário final. É, por tudo isto, que vou espraiando a teoria que me serve de base, não tendo visto, até agora, algo de positivo ou verdadeiramente convincente, infelizmente para mim que sou ávido de mais avanços, com os quais eu pudesse aproveitar para melhorar o raciocínio fundamentado em parâmetros que vou (a)firmando. E, é, destarte, que volto à estesia poética:
Para conter excessos, é preciso criar um molde ou um recipiente para que o conteúdo seja cont(en)ido com Beleza. É nessa forma estruturada que também se faz a Arte. Sem forma o que pode ser moldado, fica disforme, e a deformidade é contrária à Beleza. Os melhores poetas, e os estetas que os comentam, dizem, sempre que podem e querem isso mesmo, e os aprendizes têm muita dificuldades em entender esta constatação. Mas, é preciso que interiorizem o alcance do que esta asserção pretende abarcar. Os amestrados no ofício, sabem muito bem do que falo. É esse o primeiro passo para que a obra de Arte seja entendida na sua verdadeira dimensão. Tudo o que sai deste parâmetro, é desmedido, desregulado e enfatuado; cria, efectivamente, enfatuamento, ou, em poucas palavras: aparece distorcido, isto é, deficiente. A verdadeira genialidade está em criar regras próprias que possam ser notadas e exemplares em novas escolas a criar, pautando-se estas por um mundo novo que gera novas consciências, e, mesmo, imperceptivelmente, procuram mudar comportamentos, ideologias, filosofias; a alteração dos psico-arquétipos está ao alcance do artista genial, e creio ser este o maior desafio que se lhe depara, e até ter extinguido esta possibilidade, na concretização constante e porfiada dos objectivos que traçou para o seu percurso na Literatura. Alcançando-a, alcança o topo da sua mestria.
Um precursor não é mais do que o que venho a afirmar há bastante tempo numa labuta permanente, porventura mal escutada; mas, continua e ainda não atingiu a meta final.

2007.Portugal

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«A grandeza da alma não é evidente aos olhos de toda a gente. Essa grandeza é mais ou menos pequena, diante dos que possuem uma alma em grau mais ou menos reduzido.Quando alguém se manifesta em frente do que é superior e belo, espelha no comentário a sua própria alma; pela positiva se incorporar uma alma desenvolvida, ou pela negativa, se a tiver num plano subdesenvolvido. Com efeito, a grandeza da alma é sempre apreciada em conformidade com a dimensão anímica de cada um.»

Daniel Cristal

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