28/02/2008

...não sei construir sonetos

...não sei construir sonetos

Narcisos, não sei construir sonetos, imagino que existam pessoas que cresceram entre as métricas dos dois quartetos seguidos de dois tercetos, de modo geral contendo dez sílabas poéticas, entre as canções rítmicas dos ‘sonetos’ e seus contrapontos passo a passo pessoas se organizam: Vocábulo que deriva do latim "sonu", "suono" equivale a som no italiano.
Existem pessoas que dizem detestar olhar para um quadro abstrato e/ou surreal apontando para algo como de lá, absolutamente nada se pudesse se retirar... Quando sinto necessidade de uma certa manutenção de idéias procuro minhas próprias respostas com os sonetistas: É belo, observar a inclusão de uma metáfora dentro de um soneto não nas extremidades mas sim no centro de uma das frases.Procurando rimar internamente em determinadas situações, cada qual veste a cor da roupa lhe agrada em um determinado dia, da mesma forma que considero um “borrão” poderá existir sempre algo, solto e implícito no interior de uma tela. Há sempre algo livre entre pingos de tintas e nas palavras milimetricamente organizadas.
Existe uma ordem para tudo dentro da desordem e vice-versa.
Ninguém lida com a Arte a toa, ninguém tira uma foto de uma paisagem por mero acaso. Pessoas sensíveis se alimentam de Arte, buscando compensações nos momentos singulares de guerra e paz equilibrando-se nos muros da Arte.
Você pode escrever um soneto dentro de uma vontade inquebrantável desafiando a si mesmo: Encontrando uma forma de reforçar pensamentos que rodam em círculos ou demonstrar como se pode permanecer intacto dentro do caos.
Um soneto pode ser um reflexo do Amor:

Quem diz que Amor é falso ou enganoso
Luís de Camões

Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

Até que ponto por aqui... não se tem: a reprodução ou representação de imagens do mundo visível? Da "arte não-representacional" ou "não-figurativa"... o amor é um elemento que gera "Distanciamento das aparências" em todos os aspectos.
O amor acolhe pessoas, quando um determinado número de aves no céu passam a se juntar no fim do dia e contar uma as outras sobre seus “causos”, a árvore-mãe hospeda todos os pássaros tendo que ter uma dose a mais de disposição construtiva, seus galhos funcionam com um poleiro (já pensou o que é segurar uma dança de pernas e garras entre os saltos de trampolins aqui e acolá?), tendo sobre si diversas espécies, naturalmente, todos têm direito de ensaiar, desafinar, desabar e/ou cantar maviosamente nos galhos de uma árvore. Algumas aves efetuam passagens-relâmpagos pela árvore, outras cansam de ficar por lá, outras discutem até se matar, outras observam os movimentos, enquanto outras se alimentam outras decolam, espalhando sementes, e outras que ficam por lá vão tecendo novos ninhos...
Penso que alguém que constrói um soneto de amor parte de um sentimento abstrato... quase palpável, navegando no imaginário procurando respostas no silêncio escova delicadamente palavras, procurando cheio de dedos atingir um alvo certo, passa pela “musicalização” dos sentimentos ao caçar-significações que se encaixem... isto é um dos dons de quem faz poesia, porém não basta escrever poesia, esta quando sentida algo Mágico chama atenção ao redor!
Lindas!?! São as letras que passam a ser musicadas e como é belo poder ouvir um sonetto* musicado!!!
Qualquer poesia sem sentimento verdadeiro funciona como uma carta falsa, como às vezes é mais fácil dizer um "te odeio", do que afirmar a meio mundo um: "eu te amo". Assim como nenhum filósofo não perde a oportunidade de (se) interrogar, pedreiros assentam tijolos, pintores pintam suas histórias, atores interpretam e confrontam partes de suas múltiplas facetas, alguns escritores se centram em heterônimos, cada qual instintivamente sabe como organizar sua fala.
Um profissional bem resolvido sente prazer em executar seu ofício que resulta na meta atingida, assim como os bons amantes da Arte reforçam todos aspectos avaliando os ruins, também se constroem a valorização de novas LINHAS DA VIDA. A Arte provoca um BUM! Mesmo não existindo um estado de neutralidade, tudo é sim ou não, o caminho central está nas expressões da interpretação dos cantos das metáforas.
A Arte pode jogar um sujeito para o estado de meditação que não deixa de ser um instante especial de “prece” de relig_ação com a Natureza, onde no meio das tempestades em pleno inferno, impulsiona alguém em minutos a sair do estado de dormência até alcançar um novo céu.
Portanto, posso pensar que neste instante não tenho o dom da arte de construir um soneto, mas isto não quer dizer que eu não traga mais de um soneto dentro de mim, às vezes quem me garante que não sou um soneto ambulante? Ou não necessite do apoio de algo semelhante, noutras horas?!? A partir do instante que olho um retrato de um dos reflexos de meu estado interior, não se confunde, meu eu lírico de trova_dor... caminha com todas as formas de sons e de versos. Aí, talvez esteja o uso da luz, nesta minha forma abstrata de desmembrar os contornos das linhas que caminham no espaço do tempo, entre cores ganhando nova expressividade demarcando o respeito perante as texturas em mais de um território (isto, faz parte do viver e do ser de um ser intertextual no mundo das Letras).
Ainda... não sei construir um sonetos, (os que tenho por aqui penso não estarem maduros para uma leitura), mas isto não me impede de querer e experimentar escrever ao menos um, cada qual pode admirar o faz e o que o outro faz, e se não o faz? Nem sempre existe a preguiça, ou uma crítica em torno de quem está se exprimindo, apenas a necessidade momentânea de se expressar.Às vezes, a vida de alguns pode se encontrar em um momento tão “metrificado”, que a saída encontrada é espalhar o aroma das rosas com espinhos e pétalas provocando alguma reação geral, o movimento de escuta e da indulgência para com o gosto dos outros se faz necessário em todas as horas, não é mesmo?
Se lhe dei mais uma rosa do meu jardim, construa os “seus sonetos”, com o sorriso d'alma dos brancos narcisos! Até que ponto a influência de objetos da realidade, não tentam representar a imagem de nada? Eis a resposta no meio deste mosaico surreal, porque os sinos de John Donne também dobram por você.
Nota do italiano sonetto* = soneto.
Rosangela_AlibertiSão Paulo, 19.II.06

1 comentário:

Márcia Sanchez Luz disse...

Victor, que surpresa boa a sua visita ao meu blog O Imaginário! Fiquei muuuuiiiiittttttttooooooo feliz, viu? E adorei o poemeto que lá deixou pra mim!

Obrigada e volte sempre. Seus comentários são verdadeiras flores adornando meu espaço virtual.

Com carinho,

Márcia