27/11/2007

A CULPA FOI DOS JESUÍTAS

A CULPA FOI DOS JESUÍTAS
(sobre o primeiro de Dezembro de 1640)
Victor Jerónimo(*)


A perda da independência de Portugal em 1580 para os Espanhóis, obedeceu a uma série de factores onde estiveram inseridos a arrogância, má governação, igreja através dos Jesuítas e também a má sorte ou azar do Rei D. João III.
Com efeito El-Rei D. Sebastião nasceu como “O Desejado” em 20 de Janeiro de 1554.
Quando nasceu D. Sebastião neto de D. João III, a sucessão estava em perigo devido ao casamento da infanta D. Maria de Portugal com o príncipe D. Filipe de Castela pois as escrituras do casamento continham uma clausula que atribuía aos filhos deste matrimónio a herança da coroa portuguesa se a esta faltassem herdeiros.
Os 10 filhos de D.João III morreram ainda o rei estava vivo e só um deles o Principe D. João que nasceu a 03 de Junho de 1537, chegou à adolescência.
Seu pai para garantir a descendência, casou-o aos 15 anos com D. Joana, filha de Carlos V de Espanha, mas infelizmente também este faleceu em 02 de Janeiro de 1554, deixando a sua esposa gravida.
Se acreditarmos em destino, veremos que Portugal tinha o seu traçado, desde há muito, pois o falecimento dos filhos do Rei D. João III assim como dos seus irmãos não augurava nada de bom para o país e havia que criar-se uma descendência com urgência. D. Sebastião com três anos e meio foi aclamado Rei de Portugal e quando chegou à adolescência, deveria ter assegurado esta e não ter-se metido em aventuras, esta deveria ter sido a sua maior procupação.
O Império Português com dois séculos e meio estava em grave perigo e a pouca sorte do Rei D. João III agravou grandemente esta situação.
D. Sebastião Rei de Portugal tinha uma saúde precária mas uma grande paixão: a guerra.
O bom D. Aleixo de Menezes e os defeitos de Luís Gonçalves da Câmara, foram duas grandes influências na vida de D. Sebastião. D. Aleixo com os seus bons conselhos tentava que este não aceitasse os aduladores e aquando da sua morte em em 1569, deixou-lhe recomendações que ele nunca cumpriu. Aconselhava-lo entre várias coisas a que não se entregasse nas mãos dos fidalgos moços, mas passados alguns anos foi isso que fez.
Luís Gonçalves da Câmara, era um caçador semi-selvagem que desprezava o amor e o perigo.
Foi este que o impediu de deixar um herdeiro à coroa e de se salvar na derrota de Alcácer-Quibir, quando isso ainda era bem fácil.
D. Sebastião foi também um escravo dos jesuítas, que tudo fizeram para que este desenvolvesse o fervor religioso, e tudo faziam para que se afastasse das mulheres, pois a influência destas, esposa ou amante, iria destruir para sempre a influência do confessor.
Temos assim um rei efemeninado que fugia das mulheres e que para compensar dedicou-se à guerra.
Foi dessa amizade e união que fez com jovens temerários do seu tempo e a arrogância de não ouvir os conselhos que recebia que levou o país à catastrofe.
Com efeito este rei que nunca percorreu o país visitando os seus subditos e nunca convocou cortes só tinha como desejos a conquista do Norte de África aos Mouros.
Desbaratou e arruinou os cofres do reino com a contratação de mercenários para formar o exercito, pediu ajuda a Espanha e com estes aventureiros e miseráveis partiu para a guerra em Junho de 1578.
A organização de um exercito sem treino e sem objectivo patriótico foi o prenúncio do caos que levaria à estrondosa derrota de Portugal em Alcácer-Quibir.
Um exercito cansado, esfomeado e sem um rei capaz de o dirigir sofre uma estrondosa derrota em 3 e 4 de Agosto, levando à morte, o Rei.
A insensatez e a arrogância destruíram para sempre Portugal e este nunca mais conseguiu ter a estabilidade económica que viveu anteriormente.
O tentar conquistar o Norte de África aos Mouros levou a que Portugal mergulhasse “para sempre” no abismo.
A destruição de todo o exército em Alcacér Quibir, e a morte de D.Sebastião que não tinha herdeiros levou a que Portugal, dois anos depois entregasse o trono a Espanha.
Em 1580, D.Filipe II Rei de Espanha e neto do Rei D. Manuel I apodera-se da corte portuguesa e em 1581 é aclamado Rei de Portugal nas cortes de Tomar.
António Prior do Crato, neto (ilegítimo?) do Rei D.Manuel I ainda tentou a salvação tendo sido nomeado Rei pelo povo em 1580 no Castelo de Santarém, mas só governou 20 dias.
Na batalha de Alcântara frente ao Duque de Alba, sofreu grande derrota tendo então transferido o governo para a Ilha Terceira, Açores até 1583 onde acabou por ser derrotado, sobretudo pelo apoio da nobreza tradicional e da burguesia de apoio a Filipe.
D. António Prior do Crato foi o derradeiro príncipe da Casa de Avis e a História de Portugal comete uma grande injustiça por não o considerar como o décimo oitavo rei de Portugal com o titulo de El-Rei D. António I.
Realmente sempre houve nobres e senhores em Portugal prontos a entregar a soberania em troca de umas moedas e umas “territas”.
Como acontece ainda hoje a troco de uns Euritos, pensam que a salvação está em Espanha.
Ou outros como o nosso premio Nobel da Literatura, por exemplo, mas isto será matéria para outro artigo.
A dinastia dos Filipes, governou Portugal, durante sessenta anos e se considerarmos que houve realmente uma união Ibérica esta formou o maior Império que alguma vez existiu pois juntou territórios de quase todos os cantos do mundo, a saber:
América Central,América do Sul, Estados Unidos da América (87% do território), Arizona, México, África (menos o Egito, Sudão), Índia (Baçaim, Calcutá, Calecute, Cannannore, Cochim, Colombo, Chinsura, Damão, Dio, Hughli, Galle, Goa, Jaffna, Maldivas, Masulipatam, Matar, Nagapatam, Ormuz, Pulicat, Serampore, Tranquebar, Tricomale, Filipinas, Ilhas Carolinas, Ilhas Marianas, Ilhas Marshall, Irão, (Bandar Abbas), Omã (Mazcate e Zanzibar), China (Macau), Indonésia (Bante, Flores, Java, Macassar, Molucas e Timor), Kiribati, Malásia, Palau, Singapura, Espanha, Itália, (região sul), Portugal, Alemanha, Áustria, Suíça, Liechtenstein, Bélgica, Países Baixos , Luxemburgo, República Checa, Eslovênia, França, (região leste), Itália, (região norte), Polónia (região oeste), Nova Guiné, num total de Área dos Territórios de 52.266.452 km2. (fonte Wikipédia)
Mas a perda da independencia portuguesa era um facto e o sonho de uma união Ibérica não poderia continuar.
Até porque os Filipes não tinham capacidade para governar um Império tão vasto.
O Rei Filipe II de Espanha comprometeu-se a respeitar os acordos portugueses as suas tradições e a seguir a Carta Manuelina, mas já o Rei Filipe IV desrespeitou todos esses acordos.
Afinal o que se pode esperar de um povo que é dominado pelo seu inimigo, onde durante tantos anos muito sangue foi derramado para manter a soberania portuguesa?
Filipe IV desrespeitou os privilégios da nobreza nacional agravando-os.
O que esperavam? Não foram eles que anos antes tinham apoiado como seu salvador o jugo espanhol? Ah nobre povo português que tanto tens sofrido por mercê dos senhores que te têm governado.
Com Filipe IV os impostos aumentaram e a população empobreceu; os burgueses ficaram afectados nos seus interesses comerciais e a nobreza ficou preocupada com a perda dos seus postos e rendimentos e o mais grave de tudo o Império Português começou a ser ameaçado por ingleses e holandeses perante a impotência dos governadores filipinos.
Portugal achava-se envolvido nas controvérsias europeias que a coroa estava a atravessar, com muitos riscos para a manutenção dos territórios coloniais, com grandes perdas para os ingleses e, principalmente, para os holandeses em África (São Jorge da Mina 1637), no Oriente (Ormuz em 1622 e o Japão em 1639) e principalmente no Brasil (Salvador, Bahia em 1624; Recife, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Sergipe desde 1630). (¹)
O descontentamento e o perigo de Portugal perder para sempre os seus territórios fez crescer o sentimento de revolta de alguns nobres portugueses, sobretudo pela Casa de Bragança.
Foi também determinante no processo da revolta a intenção do Conde-Duque de Olivares em 1640 tentar usar tropas portuguesas nas zonas catalãs.
Assim em 01 de Dezembro de 1640, em um sabado, tal como hoje, (2007) quarenta conjurados, donde se destacaram os fidalgos D. Antão de Almada, D. Miguel de Almeida e o Dr. João Pinto Ribeiro, foram ao Terreiro do Paço, Lisboa, mataram o secretário de Estado Miguel de Vasconcelos e aprisionaram a duquesa de Mântua, que governava Portugal em nome de seu primo, Filipe IV.
Era a Restauração, iniciando-se a quarta dinastia com El-Rei D. João IV.
Mas muitos dos rendimentos dos portugueses como os da Índia estavam perdidos para sempre e nunca mais Portugal voltou a ter as glorias da Dinastia de Avis.
Que o dia que hoje se comemora (01 de Dezembro de 2007) seja de reflexão para todo o povo português e seus governantes e que a lição da história vivida pelos nossos antepassados não se repita com os chamados Iberistas que vêm em Espanha a salvação, quando se deviam preocupar em fazer de Portugal um país de respeito, entre as grandes nações.
Nada é impossivel, tudo é possivel, basta haver o querer e a união do nosso nobre povo e dos seus governantes.
Oxalá que D. Sebastião nunca regresse e ainda por cima numa manhã de nevoeiro (crença do povo na época e que se mantám até hoje, para designar certos sebastianismos que continuam a grassar no bom Portugal)
"Morro, mas morro com a Pátria", assim o afirmou Luiz Vaz de Camões, pouco antes do seu falecimento em 10 de Junho de 1580.

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Luiz de Camões

(¹) Foi o Rei D. João III que se preocupou com o domínio do Brasil e o dividiu em capitanias-donatárias, as conhecidas capitanias hereditárias, estabelecendo um governo central em 1548.
D. João III “Foi o verdadeiro criador do Brasil, que rapidamente se tornou o elemento fundamental do império português, assim o sendo até o início do século XIX” (Paulo Drumond Braga, op. cit, pg 145).

(*) Victor Jerónimo é português e vive no Recife – Brasil.
Este artigo foi escrito baseado em factos históricos e em conhecimentos que o autor tem sobre a História de Portugal.

11/11/2007

DA INTERNET PARA O TEATRO TRINDADE EM APENAS UM LUSTRO - A GRANDE VIAGEM DE DANIEL CRISTAL

DA INTERNET PARA O TEATRO TRINDADE EM APENAS UM LUSTRO
A GRANDE VIAGEM DE DANIEL CRISTAL
Falar de alguém da sua obra e da sua trajectória é-me extremamente difícil e por vezes essa análise pode ter pecadilhos involuntários, mas que são feitos de análise profunda do que tenho observado e visto.
Armando Figueiredo com um altérnimo criado Daniel Cristal o homem escritor, poeta, contista, ensaísta e cronista laureado, deu um "salto" daqueles saltos que se dão sem se esperar, sem se contar com ele.
Daniel Cristal que salta do espaço virtual para o espaço teatral, ou seja, da Internet para o espaço cultural da Lisboa cosmopolita.
Analisando a sua trajectória veremos que Armando Figueiredo não era conhecido do vasto público lusófono nem sequer português. Era relativamente conhecido em alguns restritos espaços académicos, jornalísticos, isto porque investia muito pouco na conquista do espaço pertencente à Literatura, especialmente, à Poesia.
Mas, hoje, a sua projecção da virtualidade para a realidade foi tal que não há nenhum espaço na Web onde não seja conhecido nesta específica área da Arte e do Saber.
Armando Figueiredo versus Daniel Cristal passou do espaço virtual, chamado Internet, para a acção cultural do Teatro Trindade, que anima as noites poéticas de Lisboa neste mês de Novembro de 2007.
Sem ter editado livros de papel que parecem não ser necessários para se estar nos grupos de vanguarda literária e ser bastante conhecido, citado e elogiado entre países separados por continentes, o seu percurso foi feito por empatias profundas geradas na Internet, nos chamados sites, websites, portais e blogues; efectivamente, pediram os seus donos, desde o aparecimento do Poeta na Web, poesias e textos seus para serem editados nos seus espaços pessoais, alguns
colectivos, outros jornalísticos.
Num lustro, desde a sua aparição na Net este Autor foi como um espectáculo humano numa viagem de comboio com passagem por muitas e variadas estações, com pessoas a entrar nele, a saudar, a dialogar e a conviver literariamente.
Poucos se apearam, e, quando tiveram que sair, ficou na memória, na maior parte dos casos a afeição e admiração recíprocas. Realmente, o que mais primou neste convívio foi a empatia, e ela percorreu vincadamente e com elegância, todo este trajecto.
Sei que o Autor se surpreendeu com este fenómeno, e não sabe se o há-de aproveitar para aceder ao público livreiro, mundo que nunca lhe interessou verdadeiramente, mas pensa que agora talvez seja oportuno e imperioso deixar algo que possa ser distribuído pelas Livrarias e Bibliotecas, aos leitores que o queiram guardar nas suas estantes para recordar, esses e outros leitores, que durante este lustro se tornaram leitores assíduos e fãs.
O mundo leitor espera por Daniel Cristal e pela oportunidade de colocar na sua estante o(s) livro(s) há tanto esperado(s).
Victor Jerónimo
Vice-Presidente da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores (AVSPE)
Membro da Associação Portuguesa de Poetas (APP)
Membro do Movimento Poético Nacional - Brasil
Editor e proprietário do Grupo Ecos da Poesia

01/11/2007

DISSERTANDO

DISSERTANDO
Victor Jerónimo

Desde que foi descoberto um meio de o ser humano se comunicar à distância, este tem ampliado os seus conhecimentos de forma fantástica. Primeiro o telefone, depois os rádios amadores, lembram-se(?) e agora a internet.
Muito já escrevi sobre os seus perigos e que todos conhecemos, mas há as amizades, as grandes amizades, antes impensáveis entre duas pessoas que não se conheciam fisicamente.
Estes bites mágicos têm-nos transportado aos pontos mais recônditos do planeta e tem-nos feito encontrar verdadeiras almas nobres, singulares, solitárias, mas almas que se encontram com a nossa e nos leva a criarmos uma amizade antes impensada nos meios tradicionais, ou que levariam anos a criarem-se.
Porque aqui estamos sós, como espectadores do mundo e onde temos o grande poder da comunicação, sentimo-nos libertos para escrevermos sobre o que nos apraz e nas amizades
desenvolvermos esse bem de forma carinhosa e amiga. Basta que o caldo mágico esteja na medida certa e que esse bem da procura amiga esteja equitativo para os dois lados.
Neste meio de comunicação o ser humano doa-se no que de mais belo tem dentro de si, criando verdadeiros estágios de solidariedade, companheirismo e devoção.
A preocupação na doença, onde as rezas são um factor a ser estudado, a ansiedade da ausência do outro, o transportar-se em espírito e doação de palavras para ajudar o semelhante são casos
bem concretos no quotidiano internáutico.
Estas amizades evoluem para estados superiores e irmanam-se criando autênticos tratados de arte e gloria que elevados em espírito conduzem a plenitudes de bem estar, amor e carinho.
Amor? Ai o amor esse que provem de uma grande amizade, que é criado não através de desejos carnais mas espirituais e que é tão bem descrito nas religiões.
O amor e adoração que vem desde os primórdios da humanidade, de amarmos o inatingível, de amarmos o desconhecido, de amarmos o bem, é uma aplacação real na internet que não é nova, que sempre existiu, o amarmos o desconhecido.
Muitas destas amizades e amores terminam quando as pessoas se conhecem fisicamente, mas a grande maioria prevalece.
Quando há o encontro físico e o olhar no espelho da alma, os olhos, logo ali ficamos a saber se valeu a pena e que vai valer a pena continuar essa amizade.
Ninguém está isento de defeitos, traumas, problemas muito graves, mas essa amizade nascida assim dificilmente se dissolve se tiver havido esse olhar d'alma.
Recife 01.Nov.2007